2.
Annie Taylor
Não fiques.
Nico Vrielink
5.
ainda
Tão
depressa veio como foi.
Disse isto cem vezes sem falar, ou talvez mais, disse
com o pensamento porque veio rápido sim, mas foi tão depressa que não deixou rasto
profundo ou sentimento que valesse a pena guardar cá dentro. Um foguete, algo
assim de sopetão, como uma imagem que surge no canto do olho quando caminhamos
no campo ou quando, sentados no sofá da sala, olhamos sem ver para a televisão.
Uma bola, gigante. Ainda assim, fui conferir se a presença dele valeu a pena, se
deixou saudade, algo que faça falta. Posso dizer que sim, que deixou silêncios
e fragmentos sem conexão, depois de dois ou três almoços. E posso dizer que
não, que falta realmente não faz mas fica sempre um vazio de não sei o quê,
talvez do nada ou do vago, que se esvazia rápido. Uma possibilidade
fragmentada ou algo que poderia fazer
sentido se o magnestismo fosse outro, que suavemente puxasse ou obssessivamente
matasse.
Talvez por isso depressa foi, por redondas travessas,
no meio da poeira de um dia seco, a fumar pensando que ninguém via o rasto da sua presença breve, ausência.
Maria Luís Koen
O telhado tem telhas quebradas, tu sabes, o
vento assobia por ali ou talvez não seja o vento . Talvez sejam as asas de
Pégaso, no seu voo de liberdade. Abri as janelas e as portas para que ele
pudesse voar por entre os trovões que se aproximam e me deixam o espírito ainda
mais molhado. Ele voa livre como quero que tu voes, sei que precisas do teu
espaço, do teu tempo. É o teu tempo. Não posso deixar-te preso no meu quintal,
não posso ver-te entristecer e murchar como as flores que me esqueço de regar. Não
te quero ver caído e morto ou vivo e mascarado. E tu preferes ficar sentado ,
sem nada dizer ou falar, hipnotisado pelas asas do cavalo alado. Não sei quem
vence, se a vida se a morte, mas tudo desaparece no tempo. Temos pouco, tu
sabes, é melhor dizer e fazer tudo agora porque se não dissermos ou fizermos , não sei, ficaremos
incompletos e não teremos vivido, ou teremos, mas sera´sempre uma vida material
e breve, de uma dimensão apenas, não vislumbraremos o outro lado, não nos
libertaremos do que é real, e nós
sabemos que há sempre algo para observar quando chove e há outros cheiros.
Leva-nos cavalo alado, leva-nos contigo para
que possamos renascer e viver para além da superfície.
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