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1.


(Annie Taylor)




Procura-se desesperadamente uma cor forte
um som forte
uma qualquer coisa forte.



Maria Luís Koen

2.

Annie Taylor



Aos seis meses ela disse-lhe:

- É muito tempo. Sei que parece pouco para o que conheço de ti. 
Gosto de algumas coisas, de outras não e
gostava de conseguir ler-te.
Olha, 
às vezes receio que tudo continue e  depois... vem a  mentira.
Desculpa. 
Não gostas, sim,  dizes que sou desconfiada. Sou! 
Mas não é por mal.
É um hábito, uma carapaça,
um escudo contra os outros e tu ainda és o outro ... 
É que não sei se aceitas os meus limites,
erros,
medos.
É só por isso.
Enquanto eu não for capaz de te dizer tudo,
não deves ficar descansado.
Não fiques.

Maria Luís Koen






3.


Bonnie Rogers


Trovoada:
não pode riscar pessoas, emendar erros, corrigir sentimentos, episódios, arrependimentos. 
Não pode.




Nico Vrielink



já chega de tanto desassossego









4.

Impasse


Telmo Rocha



Estagnou e não sabe porquê.
Falha alguma coisa
 – a intimidade que não existe.


Não é não gostar, não querer 
- é o não poder.

Entristeceu e sabe porquê.
                                                                               - é o cansaço, a espera contínua,
                                                             o coração a morrer .



                                             Não sabe do que é feito das ramagens,
 Não sabe.



5.
Sunset by leonid afremov
Leonid  Afremov

Hoje o amor é acalmia doce.
Há  saudade do tempo em que o mal não existia.
Sim.
Gosto desse sabor salgado.
O mar.

Gosto.

maria luís koen





6.

Deborah Younglao



Podia ter lido o livro que me deste,

podia ter, finalmente,  escrito aquela longa carta,

podia ter programado melhor o trabalho.

Podia ter feito tanta coisa, mas não fiz.

Podia ter-te telefonado,
podia ter-te dito o que queria para depois descansar.

Mas isso não aconteceu.


Ando assim.


Maria Luís Koen

7

Angústia

(João Alfaro)



     É mais cor que sentimento, mais dor que desejo
     é mais revolta que medo ou silêncio 
     ainda
     mais abismo que solidão.

    Angústia é estar inerte por fora, tão louco por dentro.

    Não saber que o vermelho é romã, sol, botão de rosa 
    o verde, searas e musgo de dezembro, 
    é angústia. 

     Aquela invisível dor, sombrio anseio, é angústia
     e é também angústia 
     este arrepiar de cabelos.


Maria Luís Koen



8

NEOWISE 2020

(desconheço o autor)


9.
NEOWISE 2020


(Miguel Claro)




10
(rony chastain)



11.
(garry gay)




12

(Luís Silveira)



13

@Palma OneShot

     Tão depressa veio como foi.

    Disse isto cem vezes sem falar, ou talvez mais, disse com o pensamento porque veio rápido sim,  mas foi tão depressa que não deixou rasto profundo ou sentimento que valesse a pena guardar cá dentro. Um foguete, algo assim de sopetão, como uma imagem que surge no canto do olho quando caminhamos no campo ou quando, sentados no sofá da sala, olhamos sem ver para a televisão. Uma bola, gigante. Ainda assim, fui conferir se a presença dele valeu a pena, se deixou saudade, algo que faça falta. Posso dizer que sim, que deixou silêncios e fragmentos sem conexão, depois de dois ou três almoços. E posso dizer que não, que falta realmente não faz mas fica sempre um vazio de não sei o quê, talvez do nada ou do vago, que se esvazia rápido. Uma possibilidade fragmentada  ou algo que poderia fazer sentido se o magnestismo fosse outro, que suavemente puxasse ou obssessivamente matasse.

     Talvez por isso depressa foi, por redondas travessas, no meio da poeira de um dia seco, a fumar pensando que ninguém  via o rasto da sua presença breve,  ausência.


     Maria Luís Koen


14
PEGASUS


        O telhado tem telhas quebradas, tu sabes, o vento assobia por ali ou talvez não seja o vento . Talvez sejam as asas de Pégaso, no seu voo de liberdade. Abri as janelas e as portas para que ele pudesse voar por entre os trovões que se aproximam e me deixam o espírito ainda mais molhado. Ele voa livre como quero que tu voes, sei que precisas do teu espaço, do teu tempo. É o teu tempo. Não posso deixar-te preso no meu quintal, não posso ver-te entristecer e murchar como as flores que me esqueço de regar. Não te quero ver caído e morto ou vivo e mascarado. E tu preferes ficar sentado , sem nada dizer ou falar, hipnotisado pelas asas do cavalo alado. Não sei quem vence, se a vida se a morte, mas tudo desaparece no tempo. Temos pouco, tu sabes, é melhor dizer e fazer tudo agora porque se não  dissermos ou fizermos , não sei, ficaremos incompletos e não teremos vivido, ou teremos, mas sera´sempre uma vida material e breve, de uma dimensão apenas, não vislumbraremos o outro lado, não nos libertaremos do que é real,  e nós sabemos que há sempre algo para observar quando chove e há outros cheiros.

        Leva-nos cavalo alado, leva-nos contigo para que possamos renascer e viver para além da superfície.


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