terça-feira, 3 de fevereiro de 2015




the look of love




-sempre


17


tina cassati 



É sempre tudo tão bem. O sol manso de manhã
o cheiro a orvalhada, o frio a gelar as mãos, a colorir
a face. Mas logo aparece o que arrefece, enlouquece.
Instala-se o nó e a vontade de rasgar papéis,    ´
quilómetros de eternas letras 
num palmilhar de veios passados.
Mesmo quando desaparece, a surdez continua, a cegueira 
de todos os doces, a nudez de todas as esperanças.
E ficas quedo, com medo de tanta paz e
de eu te dizer que te amo.



Maria Luis Koen



a roda



isaac  maimon


Perante o olhar curioso de todas, à excepção de uma,  baralha e parte as cartas, com a face oculta, e coloca-as em circulo, começando pela parte de cima à direita e rodando no sentido dos ponteiros do relógio. Dispõe assim doze cartas, mais uma no centro. Depois, vira-as sequencialmente, começando pela primeira, explicando que “esta dará o ambiente global do mês”. “A segunda”, esclarece, “sobre o mês  seguinte e assim sucessivamente, até ao fim dos doze meses”. E continua: “Depois de se ter virado e interpretado os doze arcanos, vira-se a carta que se colocou no meio do círculo, da roda. Esta irá dar-nos uma ideia geral do ano ou então do número de meses, quer estejamos em Janeiro ou noutro mês, fazendo assim um resumo dos meses”. Olhando para nós: “Se um dos meses estudados, ao ser comparado com o resultado dos outros, parecer mais estranho ou difícil de interpretar”, explica, “deve-se isolar essa carta  e fazer um lançamento especial, do género 'lançamento em cruz', para saber mais sobre esse período  que não se consegue interpretar com alguma precisão”. 
Estamos atentas à explicação de Gabriela que fala no geral sobre a simbologia e o significado de cada carta do tarot, o que , para nós, leigas no assunto, é complicado e difícil, chegando rapidamente à conclusão que, aprender tudo num só dia, será uma missão impossível. Assim, sugerimos um intervalo, que chegava para a primeira lição. O que queríamos mesmo era que  Gabriela nos lesse o futuro. Roberta peremptoriamente disse que nem pensar, não acreditava em futurologia e não queria sequer experimentar. Amélia concordou de imediato, seguida de Mafalda. Achei estranho, mas tenho a certeza que foi só para disfarçar. Demais conhece a bicha o seu futuro. Restava a dona da brilhante ideia, a dona da casa e Júlia, que não se negou. Afinal não tinha nada a perder, depois de perder o marido só tinha era que ver o que o futuro lhe reservava. Não querendo ser a primeira, aguardou expectante e com muita curiosidade que chegasse a sua vez. Gabriela foi clara nas exigências, que tinha que haver algum silêncio e concentração para além da vontade de cada uma das participantes. 

Maria Luís Koen