segunda-feira, 21 de julho de 2014

A Roda - capítulo 12



Helene Perdriat

12.
Somos sete aros numa roda que é a mesa da sala, pequena teia que dá para a piscina redonda do condomínio da Roda . Gabriela, a taróloga, refere a perfeição como curiosidade. Por exemplo, as cartas números quatro e três formam o par chamado Imperador - Imperatriz, o pai e a mãe, portanto a perfeição. E quatro com três soma sete. Disse também  que as cartas cinco e dois são o par Papa - Papisa, o par da espiritualidade . Número sete.  Depois,  que  a carta número sete é a Carroça, símbolo de cumprimento, realização. Gabriela continua dizendo que o sete é, assim, o algarismo do homem perfeito. Finalmente, antes de começar a sua lição sobre as cartas, acrescenta que “o sete representava também os sete estados da matéria, os sete graus da consciência, as sete etapas da evolução -consciência do corpo físico, da emoção, da inteligência, da intuição, da espiritualidade, da vontade e da vida - e ainda os sete pecados mortais, de todos conhecidos: Avareza, Inveja, Ira, Gula, Preguiça, Soberba e Vaidade” (sic). E sorriu:
- Tudo se passa no universo dentro de um ritmo septenário.

Maria Luís Koen

sábado, 19 de julho de 2014

De repente


16

Telmo Rocha



De repente as cores ficam cinzentas
o rumo é infinito e assustador
as sensações adoecem na chuva
e eu
não sinto nada.

A memória
essa, recorda-me episódios
que saboreio
mas não sei.

Quero e não
esquecer.


Maria Luís Koen


Podia




Deborah Younglao



Podia ter lido o livro que me deste,

podia ter, finalmente,  escrito aquela longa carta,

podia ter programado melhor o trabalho.

Podia ter feito tanta coisa, mas não fiz.

Podia ter-te telefonado,
podia ter-te dito o que queria para depois descansar.

Mas isso não aconteceu.


Ando assim.


Maria Luís Koen

Sempre


15

John Bramblitt


Sempre esta dôr
de ver teus olhos
bichos inquietos.


maria luís koen




Joana

A Roda - continuação

Gun Legler

Joana continua : 
-Estou impressionada convosco! Mas digo mais: o sete está presente em inúmeras histórias populares e lendas.
- Sim? Interessante. Dá exemplos!
- Por exemplo a história da Branca de Neve e dos sete anões.
Acrescentam:
- As sete léguas das botas do Pequeno Polegar.
-Pois é, formavam um grupo de sete rapazes.
- O sete possui um certo poder, é um número mágico. Para mim o sete está relacionado com a perfeição.
Mafalda fingiu estar boquiaberta e ligeiramente impressionada, apesar de não me enganar:
- Já vi que percebem de numerologia. Sabes muito sobre o número sete, Joana. E vocês também.
- Sei ainda mais – sorriu - mas agora quero apresentar-vos a Gabriela. Pedi à Gabriela que nos lesse ou nos ensinasse a ler as cartas.
Claro, só podia ser isso, pensei. Que treta. Isso ou uma reunião de tuppersex. Não sei qual a melhor. Para mim, nenhuma. Mas agora não posso fazer nada a não ser entrar no jogo, em mais uma brincadeira ao gosto de Joana. Uma brincadeira no meu apartamento, um pouco à minha revelia, o que me desagradou mais ainda. 
A invasão do meu espaço, das minhas coisas, dos meus objectos era quase a invasão da minha alma, do que eu sentia. Era isso que não perdoava a Joana. Que trouxesse duas estranhas, uma bruxa e outra bruxa, a minha casa. Perturbava-me isso, como depois disse a Joana. Não sei se ela compreendeu, até acho que não, é muito prática a minha amiga. Mas disse-lhe na mesma. Não quero que ela repita a gracinha. Não quero pessoas que não conheço na minha casa. Não quero abrir as portas a qualquer um. Não quero ser sugada de surpresa por olhos cor de violeta como fui sugada pelos dele. Não quero passar pelo mesmo, pela morte, pela ida à sepultura colocar flores e vir de lá a cheirar a mortos. Não quero voltar a isso, nem lentamente, não quero pensar nele – escondi a cadeado as fotografias amarelecidas pelo tempo, as saudades, a escova do cabelo, o pente. 
- Como calculam não podia ser na minha casa, que o Miguel não gosta destes assuntos e morando a Ana no número sete, achei brilhante ser aqui.
 
Maria Luís Koen