Gun Legler
Joana continua :
-Estou impressionada convosco! Mas digo
mais: o sete está presente em inúmeras histórias populares e lendas.
- Sim? Interessante. Dá exemplos!
- Por exemplo a história da Branca de Neve
e dos sete anões.
Acrescentam:
- As sete léguas das botas do Pequeno
Polegar.
-Pois é, formavam um grupo de sete rapazes.
- O sete possui um certo poder, é um número
mágico. Para mim o sete está relacionado com a perfeição.
Mafalda fingiu estar boquiaberta e ligeiramente
impressionada, apesar de não me enganar:
- Já vi que percebem de numerologia. Sabes
muito sobre o número sete, Joana. E vocês também.
- Sei ainda mais – sorriu - mas agora quero
apresentar-vos a Gabriela. Pedi à Gabriela que nos lesse ou nos ensinasse a ler
as cartas.
Claro, só podia ser isso, pensei. Que
treta. Isso ou uma reunião de tuppersex. Não sei qual a melhor. Para mim,
nenhuma. Mas agora não posso fazer nada a não ser entrar no jogo, em mais uma
brincadeira ao gosto de Joana. Uma brincadeira no meu apartamento, um pouco à
minha revelia, o que me desagradou mais ainda.
A invasão do meu espaço, das
minhas coisas, dos meus objectos era quase a invasão da minha alma, do que eu
sentia. Era isso que não perdoava a Joana. Que trouxesse duas estranhas, uma
bruxa e outra bruxa, a minha casa. Perturbava-me isso, como depois disse a
Joana. Não sei se ela compreendeu, até acho que não, é muito prática a minha
amiga. Mas disse-lhe na mesma. Não quero que ela repita a gracinha. Não quero
pessoas que não conheço na minha casa. Não quero abrir as portas a qualquer um.
Não quero ser sugada de surpresa por olhos cor de violeta como fui sugada pelos
dele. Não quero passar pelo mesmo, pela morte, pela ida à sepultura colocar
flores e vir de lá a cheirar a mortos. Não quero voltar a isso, nem lentamente,
não quero pensar nele – escondi a cadeado as fotografias amarelecidas pelo
tempo, as saudades, a escova do cabelo, o pente.
Maria Luís Koen
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