sábado, 10 de agosto de 2013

A Roda - capítulo 10



kari lise alexander

10.
- Somos seis. Seis devem chegar e cabem todas na tua casa, Ana. Qual o problema?
- Mas não me consultaste ou pediste ou falaste no assunto. Nem estou interessada em reunião nenhuma, sobre tema algum.
- Já dei a morada e vai ser hoje às vinte e duas horas, não posso voltar atrás. Além do mais, já paguei. Vais adorar!!  Não sei porque te queixas. Achas que podia ser na casa das outras? E os maridos e os filhos? Na minha casa? O Miguel matava-me.
- Na tua não pode e na minha pode!!! - disse irritada.
- Ana, melhor do que na tua casa não há! Não te zangues. E podemos estar todas juntas na risota.
- Mas elas sabem ?
- Saber não sabem, mas insisti que viessem, que era algo muito importante para ti.
E riu.
Na verdade não gostei deste excesso de Joana, mas já sabia que, mesmo que dissesse que não, ela já tinha feito todos os contactos e  não valia a pena protestar. Quando saí, cansada de uma semana de trabalho, estacionei o carro no condomínio, não subi as escadas mas utilizei o elevador para o terceiro andar, abri a porta do número sete, descalcei os sapatos e atirei-me para o grande sofá creme que tinha na sala. Pensei: apetecia-me tudo agora menos aturar uma reunião só de mulheres. Liguei a televisão, as notícias do costume. Fechei os olhos durante cinco minutos, a cabeça a vaguear no corpo bonito do Simão, nos lábios, no nariz, outra vez nos lábios, na conversa no Ventoso, que deu em nada. Simão, o historiador que conheci por acaso, quando quis estacionar o carro no único lugar vago que havia ao pé da Sé e, por descuido, ao fazer a manobra, esfolei o veículo que aí se encontrava estacionado. É preciso ter azar, pensei. E agora? Fujo ou fico? Acabei por deixar um bilhete no vidro do carro com a confissão de que tinha sido eu a causadora dos estragos, deixando o meu número de telemóvel. Já estava sentada no Arcada, às voltas com um pastel de nata,  quando o dito toca e era o dono do carro, aborrecido com a amolgadela no automóvel que, afinal, só comprara há três meses. Disse-lhe para vir ter comigo ao café, que pagaria o arranjo, que tinha seguro contra todos os riscos. E ele foi. Vi logo que só podia ser aquele o dono do carro, quando apareceu, passos largos, boca franzida, nariz adunco, olhos escuros de irritação. Sinal vermelho! Há quanto tempo não via o sinal vermelho! Ou então não queria ver, não queria jogar, não queria sentir, não queria. Ele era um doce. Logo ali ficou combinado que o carro seria visto por um perito que ele conhecia.
Maria Luís Koen