kari lise alexander
10.
- Somos seis. Seis devem chegar e cabem
todas na tua casa, Ana. Qual o problema?
- Mas não me consultaste ou pediste ou
falaste no assunto. Nem estou interessada em reunião nenhuma, sobre tema algum.
- Já dei a morada e vai ser hoje às
vinte e duas horas, não posso voltar atrás. Além do mais, já paguei. Vais
adorar!! Não sei porque te queixas.
Achas que podia ser na casa das outras? E os maridos e os filhos? Na minha
casa? O Miguel matava-me.
- Na tua não pode e na minha pode!!! -
disse irritada.
- Ana, melhor do que na tua casa não há!
Não te zangues. E podemos estar todas juntas na risota.
- Mas elas sabem ?
- Saber não sabem, mas insisti que
viessem, que era algo muito importante para ti.
E riu.
Na verdade não gostei deste excesso de
Joana, mas já sabia que, mesmo que dissesse que não, ela já tinha feito todos
os contactos e não valia a pena
protestar. Quando saí, cansada de uma semana de trabalho, estacionei o carro no
condomínio, não subi as escadas mas utilizei o elevador para o terceiro andar,
abri a porta do número sete, descalcei os sapatos e atirei-me para o grande
sofá creme que tinha na sala. Pensei: apetecia-me tudo agora menos aturar uma
reunião só de mulheres. Liguei a televisão, as notícias do costume. Fechei os
olhos durante cinco minutos, a cabeça a vaguear no corpo bonito do Simão, nos
lábios, no nariz, outra vez nos lábios, na conversa no Ventoso, que deu em
nada. Simão, o historiador que conheci por acaso, quando quis estacionar o carro
no único lugar vago que havia ao pé da Sé e, por descuido, ao fazer a manobra,
esfolei o veículo que aí se encontrava estacionado. É preciso ter azar, pensei.
E agora? Fujo ou fico? Acabei por deixar um bilhete no vidro do carro com a
confissão de que tinha sido eu a causadora dos estragos, deixando o meu número
de telemóvel. Já estava sentada no Arcada, às voltas com um pastel de
nata, quando o dito toca e era o dono do
carro, aborrecido com a amolgadela no automóvel que, afinal, só comprara há
três meses. Disse-lhe para vir ter comigo ao café, que pagaria o arranjo, que
tinha seguro contra todos os riscos. E ele foi. Vi logo que só podia ser aquele
o dono do carro, quando apareceu, passos largos, boca franzida, nariz adunco,
olhos escuros de irritação. Sinal vermelho! Há quanto tempo não via o sinal
vermelho! Ou então não queria ver, não queria jogar, não queria sentir, não
queria. Ele era um doce. Logo ali ficou combinado que o carro seria visto por
um perito que ele conhecia.
Maria Luís Koen
Isto chama-se "A Roda" mas... tem rodado pouco, anda um bocado parado. Estará a roda furada?...
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