domingo, 24 de março de 2024

PEGASUS

 




         O telhado tem telhas quebradas, tu sabes, o vento assobia por ali ou talvez não seja o vento. Talvez sejam as asas de Pégaso, no seu voo de liberdade. Abri as janelas e as portas para que ele pudesse voar por entre os trovões que se aproximam e me deixam o espírito ainda mais molhado. Ele voa livre como quero que tu voes, sei que precisas do teu espaço, do teu tempo. É o teu tempo. Não posso deixar-te preso no meu quintal, não posso ver-te entristecer e murchar como as flores que me esqueço de regar. Não te quero ver caído e morto ou vivo e mascarado. E tu preferes ficar sentado , sem nada dizer ou falar, hipnotisado pelas asas do cavalo alado. Não sei quem vence, se a vida, se a morte, mas tudo desaparece no tempo. Temos pouco, tu sabes, é melhor dizer e fazer tudo agora porque se não  dissermos ou fizermos , não sei, ficaremos incompletos e não teremos vivido, ou teremos, mas será sempre uma vida material e breve, de uma dimensão apenas, não vislumbraremos o outro lado, não nos libertaremos do que é real,  e nós sabemos que há sempre algo para observar quando chove e há outros cheiros.

        Leva-nos cavalo alado, leva-nos contigo para que possamos renascer e viver para além da superfície.


Maria Luís Koen


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