Liu Yuanshou
As mulheres modernas dos dias de hoje desconhecem
a sua história como mulheres, e muitas consideram a menstruação um episódio
mensal no mínimo aborrecido, um tremendo incómodo que não se importariam de
abolir de vez. As mulheres do século XXI deixaram de ter e de se juntar nas “casas de lua”, nas “tendas vermelhas” para
poderem descansar, conversar e partilhar as suas experiências, problemas,
aflições e medos, bem como a sua intuição , essa bem antiga. Mas a verdade é
que, quando acontecem jantares ou reuniões de mulheres, o resultado é que elas
ficam mais felizes e sentem-se bem e com vontade de estarem de novo juntas. Nas
antigas casas de lua, as mulheres mais velhas ensinavam às mais novas as
chamadas “coisas de mulheres”, tais como viver com os ciclos menstruais de uma forma calma e sem grandes dores, ou problemas.
Mas, ainda assim, apesar da era moderna em que vivemos, em algumas aldeias de
Portugal, as mulheres menstruadas ainda se juntam para analisar os ciclos, para
anotar a lua em que geralmente chega a menstruação (muitas vezes chamada “a Velha ”) e para conversarem. Conhecem as
luas e os seus poderes, sabem os períodos férteis, quando nascem os filhos.
Sabem que a Lua Nova significa o início do ciclo, que o Quarto Crescente tem a
ver com o amadurecimento, que a Lua Cheia quer dizer colheita e que o Quarto
Minguante é a altura certa para avaliar o que correu bem e o que correu mal, para assim poderem começar um novo ciclo. Este
conhecimento e observação fazia com que as mulheres das aldeias não fossem ao médico,
muitas ignoravam os métodos contraceptivos pois sabiam identificar os seus
períodos férteis e também as probabilidades dos nascimentos.
A psicoterapeuta Patricia Cuocolo, que
estudei nos tempos de faculdade e que se especializou nesta área, afirmou num
dos seus estudos, algo que todas as mulheres sabem: que a “Lua, Sangue e Mulher
sempre estiveram associadas. Em várias línguas as palavras menstruação e Lua
são as mesmas ou estão relacionadas”. Todas sabemos o que é “estar aluada”. A
primeira forma de medir o tempo foi, de facto, através do ciclo menstrual das
mulheres. Estes pareciam estar de algum modo ligados entre si. Essa sincronia apontava para uma ligação entre
as mulheres, a Lua e as deusas da fertilidade. De acordo com esta terapeuta,
muitas das queixas apresentadas atualmente pelas mulheres no seu (também no
meu) consultório, e na clínica médica de cuja equipa faz parte, tais como “Tensão
pré menstrual, cólicas, dificuldade em engravidar, doenças no útero, ovários e
seios, têm as suas origens no facto da mulher se ter distanciado de sua
natureza cíclica e sábia, onde a sua capacidade de se silenciar para ouvir a própria
intuição e as mensagens do seu reino interior ficou para trás, com prejuízos
drásticos para o seu equilíbrio físico - psíquico – espiritual” (sic).
Não é por acaso que na tradução da História
Natural de Plínio aparece: «A mão de uma mulher com a menstruação transforma o
vinho em vinagre, seca as colheitas, mata as sementes, murcha os jardins, faz
cair a fruta das árvores, escurece os espelhos, oxida o ferro e o latão …, mata
as abelhas, tira o brilho ao marfim e enlouquece os cães que lambem o sangue da
menstruação…». Ainda hoje, nos países do sul da Europa, como Portugal, se continua a acreditar
que uma mulher menstruada azeda a cerveja se entrar numa cervejaria, estraga os
bolos que estiverem a ser confeccionados, desanda a maionese ou estraga a carne
dos enchidos quando estão a ser feitos. A mãe de uma amiga minha, de Sintra,
não permitia que alguém menstruado fizesse a maionese – saia sempre mal, era um
desperdício de ingredientes! A minha avó, quando matava e enchia as carnes, não
deixava entrar ninguém nesse quarto, especialmente se fosse mulher, sem saber
se “estava impura ou não”. Só depois de ser dito que se estava “pura” é que os
olhares das outras mulheres ajudantes, que tratavam da carne, se acalmavam e se
podia entrar.
Maria Luís Koen
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