terça-feira, 10 de junho de 2014

a roda - continuação




Trish Laffrenere

O pensamento é interrompido pela campainha. Por sorte cada uma das minhas amigas traz um doce, uma bebida, nenhuma de mãos vazias. Um amontoado de casacos, luvas, cachecóis e malas no meu quarto, taças na cozinha, bebidas no móvel da aparelhagem, a confusão da chegada e de quererem saber a razão de ali estarem e da importância que tal teria para mim.
-Não sei. A Joana é que marcou isto tudo na minha casa. Sabem como ela é. Gosta de surpresas e a maior surpresa é que ainda não chegou.
O telemóvel toca.
- Está atrasada, mais dez minutos e já cá está.
Todas conhecemos os dez minutos de Joana, por isso atacamos o bolo de chocolate da Roberta e o abafadinho da Júlia enquanto pomos a conversa em dia. Passados três dez minutos, a campainha do número sete toca e eis a nossa querida Joana acompanhada de alguém que nunca viramos antes.
- Desculpem o atraso mas tive que ir buscar a Gabriela. Com ela somos sete.
Olhámos umas para as outras. A Joana sempre teve a mania, fixação, ou fetiche - mais um - por números. A tudo associava números e vice-versa, até nós tínhamos números. Não gostava de alguns, como o seis, e chegava a desmarcar compromissos quando o número não lhe agradava.  
-E o que tem sermos seis ou sete? Pergunta Mafalda, ainda novata nos gostos de Joana.
-Não sabes que o seis é de mau agouro e o sete é um número tradicionalmente cheio de significados e simbologias? É um número divino. Vou dar-te alguns exemplos. 
- Então é melhor sentarmo-nos… - disse eu, desagradada com tudo aquilo e ainda mais porque a bruxa estava na minha casa, coisa que eu queria evitar a todo o custo. E o que é facto é que a pimenteira murchou, como verifiquei no dia seguinte. Mas não podia fazer nada, o que me irritava ainda mais, pois mesmo que quisesse explicar, como o iria fazer? Sentia-me aleijada com aquela mulher na minha casa, a ver tudo com aqueles  olhos de bicho frio. Louca, diriam por certo, se alguma vez ousasse mencionar o que sabia. 
- Olha Mafalda, para mim o sete é um número muito especial. E vou dar-te vários exemplos do porquê desta minha convicção. 
Como se a bruxa não soubesse – pensei.
- Por exemplo, os dias da semana são sete por alguma razão, os planetas para o mundo antigo também são sete, existem sete sábios Gregos e sete graus celestes .
-E uma rosa, imagina, tem nada mais nada menos do que sete pétalas-  acrescentam as outras na risota.
 E Roberta diz:
-As cores do arco-íris são sete, e quantos são os pecados mortais?
- Sete -  respondem .
Cada uma acrescenta um ponto:
-As notas musicais são sete.
-Sabes quantas estrelas formam cada uma das constelações da Ursa Maior e da Ursa Menor?
- Sete! Sete!
Já conhecedoras da sua paixão por este número, continuam e ajudam na festa:
- Sim, o sete é também é um número simbólico: simboliza as três virtudes teológicas.
- Pois é! A Fé e a …
- Esperança
- A caridade.
-E também há as quatro virtudes: prudência e temperança …
-Justiça e força.
- De acordo com a Bíblia o mundo foi criado em seis dias, sendo o sétimo, o dia do descanso.
- É verdade. É considerado dia Santo.
 E eu, para não me ficar atrás, não me tornar mal educada e gerar desconfiança, acrescento e repito as palavras de Simão no Evorahotel:
-O número sete é a chave do Apocalipse.
- Sabes isso?
- Sim,  é também símbolo da totalidade humana.
- Sim? Como?
- Adicionando o número quatro que simboliza o homem com o número que simboliza a mulher, isto é, o três.
- Como é que sabes isso? – pergunta Joana.
- Li num site que encontrei na internet, minto.

(continua)
Maria Luís Koen


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