terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

13.

Art Annette Schmucker
- Claro que não. Adoro o meu Miguel. Casei com ele não por vingança mas um pouco por impulso, por paixão… O casamento é sagrado! Mas não esqueço o que o outro me fez. Foi um cabrão e disso não passa.
- Nunca ouviste dizer que “os traidores são colhidos na sua própria cobiça”? Esquece, Joana. Não merece sequer  que penses nele, não achas? Pensa no Miguel, o teu amor.
- No meu doce - e sorriu.
Adoro-o. Amei-o assim que o vi. O coração quase parou, o corpo num arrepio de tesão, um tormento que não sei explicar, um magnetismo que me deixou frágil e a flutuar, Ana. Ele faz-me sentir bem, quase em êxtase permanente. Quando estamos juntos só quero mesmo é cheirá-lo, saboreá-lo, comê-lo todo.
- Malandra que me saíste!
- Malandra eu? Sabes bem que gosto de sexo. E com o Miguel…parece que ainda gosto mais do que já gostava.
Joana ri de barriga cheia, de plenitude ou mera felicidade.
Quando ela saiu e fiquei novamente só, reli as palavras de Shakespeare, no livro que Roberta me oferecera como retribuição pela minha capacidade de ouvir e muita paciência. A minha vida preenchida pelas perdas e amores dos outros, desgostos, traições e sentimentos de seres imperfeitos. Uma roda em que, novamente, sou eu o centro para onde os raios convergem. É esse o meu karma? “E a minha roda está redonda ou toda torta?” penso, “Colorida ou mais a preto e branco?”.

O que faço aos intervalos em que sinto a boca seca?

Maria Luís Koen

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