sexta-feira, 25 de abril de 2014

A Roda - sim, não se preocupe



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- Sim, não se preocupe, eu concordo, mas é melhor assinarmos os papéis em como tudo isto é amigável.
Finalmente o homem sorriu e apresentou-se:
-Simão Gonçalves, prazer. Desculpe a irritação mas não estava à espera de ver o veículo naquele estado.

-Ana Cabral. Também fiquei irritada com a minha aselhice-  sorri.
Combinámos que à tarde, por volta das seis, iria ter com ele a fim de ouvir o veredicto do tal perito. O carro ficou na oficina e eu tive que ir levar o dono do carro a casa, um apartamento nos Álamos. 
- Então até à próxima, disse.
- Até breve, disse ele.
O breve foi no dia seguinte enquanto comia uma fatia de tarte, pobre jantar, e olhava para a chuva que batia forte nos grandes vidros da sala que dava para a piscina do condomínio. Olhava para lá sem ver, perdida na minha própria mente, como sempre, à espera de nada, que o tempo passasse, que o jantar terminasse, que a hora de deitar viesse como sempre, para poder dormir e voltar a acordar, na rotina do nada acontecer. Toca o telemóvel, um número desconhecido. Fiquei tão admirada que nem consegui recusar o convite para um cafezinho no Evorahotel. E às nove a campainha toca e lá vou eu, debaixo de chuva torrencial – “uma loucura, devo estar doida”, pensei – com o estranho a quem amolguei o carro, de táxi, beber café ao Évorahotel. Onde está agora a mágoa que tantas vezes me assola, onde pára a terrível culpa, o inconsciente que me mortifica? Escolhemos um sofá perto do bar mas longe dos que lá se encontravam. O barman, solicito, trouxe um chá de menta para mim e para ele um Irish coffee.
-Você mora num lugar azarado, disse.
- Azarado??
- Sim, não sabe? Azarado e, dizem, assombrado – sorriu.
- Não sei do que fala. Ainda se disser redondo, agora azarado…-  sorri também.
- Você não sabe que mora no número sete e, ainda por cima no lugar dos mortos?
- Não.
- O número sete é muitas vezes associado ao mal que, dizem, procura imitar  o bem.
- Sim? Tenho uma amiga que também tem uma paixão especial por números, digo. Ela também tem uma fixação pelo número sete. Mas afirma o oposto: diz que o sete é o numero perfeito.
- Sabe que o sete é a chave do Apocalipse?
- Sim, tenho uma vaga ideia: sete igrejas e  sete estrelas e mais setes que não me lembro – sorri.
(continua)
Maria Luís Koen


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