13. (continuação)
Anita Nowinska
O Ruivo não fizera mais do que trair a
fantasia, sentimento escondido ou pecado muito desejado de Joana. Depois de uma
noite de luxúria no apartamento que ela julgara dele, nem a lua cheia salvou a
falta de romantismo, quando
desbocadamente lhe escapa “é pá, hoje são os anos da minha mulher!”.
- Mas há algum homem que diga isso a uma
mulher??
-Vê tu o cabrão. Traiu-me o filho da puta.
E a conversa continua, sentadas no sofá da
minha sala.
- Ninguém ama só uma pessoa na vida.
-Quem
nunca traiu, mesmo em pensamento, que atire a primeira pedra. Eu traí. Tu não?
Namorado atrás de namorado, noivos atrás
uns dos outros, pecadora sem limites, Joana ainda doída pela traição do Ruivo,
pela indignação e humilhação de ser a outra.
-Não, nunca traí.
-Não acredito. Está provado que os humanos
são traidores por natureza.
-Provado?
-Há várias teses, algumas polémicas, sobre
o assunto.
- Teses!! Tens cada uma!
- Olha, o Dr.Stephen Emlen, médico, da Universidade
Cornell , refere que nove entre dez mamíferos são infiéis.
- Quem é esse?
-Um médico, já disse. Este médico também
afirma que o que é raro é a existência da monogamia.
- Muito raro mesmo!!! - E ri.
- Ele diz que existem dois tipos de
monogâmicos: os de carácter genético e os de carácter social.
- Isto carece de mais bebida, não achas?
- Mas queres ouvir ou não?
- Pronto, não te zangues. Conta lá o que
diz o médico.
-Emlen diz que, no caso da monogamia
genética, a fidelidade entre parceiros surge como uma excepção.
- Sim?
- Sim, não brinques. Ele também diz que no caso da monogamia
social, os parceiros estão juntos com o
objectivo de procriar e criar filhos.
- Isso é tudo para desculpares a atitude do
Ruivo?
-Claro que não. Só te estou a tentar dizer
que a fidelidade não passa de um mito.
-Mito?
-Sim, o mito criado na sociedade de que os
filhos criados por pais não separados têm uma vida melhor e mais feliz. É mito.
Apenas mito.
-Com mito ou sem mito, o Ruivo traiu-me.
Não lhe perdoo.
-Espero que não tenha sido esse o motivo
porque arranjaste noivo logo em seguida.
- Qual motivo?
-Um motivo ao gosto de Nietzsche que dizia
que na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem.
Maria Luís Koen
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