quarta-feira, 7 de outubro de 2015


13. (continuação)


Anita Nowinska

O Ruivo não fizera mais do que trair a fantasia, sentimento escondido ou pecado muito desejado de Joana. Depois de uma noite de luxúria no apartamento que ela julgara dele, nem a lua cheia salvou a falta de romantismo,  quando desbocadamente lhe escapa “é pá, hoje são os anos da minha mulher!”.
- Mas há algum homem que diga isso a uma mulher??
-Vê tu o cabrão. Traiu-me o filho da puta.
E a conversa continua, sentadas no sofá da minha sala.
- Ninguém ama só uma pessoa na vida.
 -Quem nunca traiu, mesmo em pensamento, que atire a primeira pedra. Eu traí. Tu não?
Namorado atrás de namorado, noivos atrás uns dos outros, pecadora sem limites, Joana ainda doída pela traição do Ruivo, pela indignação e humilhação de ser a outra.
-Não, nunca traí.
-Não acredito. Está provado que os humanos são traidores por natureza.
-Provado?
-Há várias teses, algumas polémicas, sobre o assunto.
- Teses!! Tens cada uma!
- Olha, o  Dr.Stephen Emlen, médico, da Universidade Cornell , refere que nove entre dez mamíferos são infiéis.
- Quem é esse?
-Um médico, já disse. Este médico também afirma que o que é raro é a existência da monogamia.
- Muito raro mesmo!!! - E ri.
- Ele diz que existem dois tipos de monogâmicos: os de carácter genético e os de carácter social.
- Isto carece de mais bebida, não achas?
- Mas queres ouvir ou não?
- Pronto, não te zangues. Conta lá o que diz o médico.
-Emlen diz que, no caso da monogamia genética, a fidelidade entre parceiros surge como uma excepção.
- Sim?

- Sim, não brinques.  Ele também diz que no caso da monogamia social,  os parceiros estão juntos com o objectivo de procriar e criar filhos. 
- Isso é tudo para desculpares a atitude do Ruivo?
-Claro que não. Só te estou a tentar dizer que a fidelidade não passa de um mito.
-Mito?
-Sim, o mito criado na sociedade de que os filhos criados por pais não separados têm uma vida melhor e mais feliz. É mito. Apenas mito.
-Com mito ou sem mito, o Ruivo traiu-me. Não lhe perdoo.
-Espero que não tenha sido esse o motivo porque arranjaste noivo logo em seguida.
- Qual motivo?
-Um motivo ao gosto de Nietzsche que dizia que na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem.



Maria Luís Koen















Sem comentários:

Enviar um comentário