sábado, 3 de outubro de 2015



A Roda  

13.


awaiting miracles
Marta  Orlowska


 As reacções são diversas. E diferentes. Uns perdoam, outros fingem que não sabem, uns deprimem, outros matam-se, outros matam e outros vingam-se:  temos o exemplo do marido inglês que leiloou a mulher na internet quando soube que tinha sido enganado;  temos a mulher que decidiu vender tudo o que era do marido e ter alguns lucros;  temos o homem que, por vingança, vendeu duzentas fotos sexy da ex-mulher no eBay quando soube que esta o tinha traído com o melhor amigo;  temos a noiva italiana que, ao descobrir através do facebook que o noivo era um porco traidor, decidiu colar cartazes com a cara do desgraçado, agradecendo ao facebook; temos a australiana que fez um leilão virtual com as cuecas da amante do marido juntamente com um invólucro vazio de um preservativo “tamanho pequeno”;  temos a mulher que teve um caso com o padre da freguesia fugindo e casando com ele e outra que começou a coleccionar amantes secretos. Também há outro tipo de reacções: a mulher que colocou nas redes sociais “sou corno” e “tenho chifres” e a outra que enviou emails dizendo que ele tinha palitos; a mulher que se atirou da varanda, partiu a bacia mas não morreu;  o homem que atirou ácido à cara da namorada e aquele que inventou boatos pouco abonatórios sobre a mulher.
                                  Desespero
                                            Raiva e dor
                                                  Vingança.
    Traição não tem sexo
Nem nexo
                 Traição.

É disso que se trata.  As pessoas nem sempre falam, nem sempre dizem mas, muitas vezes, basta uma palavra para mostrarem o que não querem dizer. E eu finalmente apreendi a palavra que resume todas as reacções de Joana, desde a estalada na cara do Ruivo, o engenheiro, até ao rápido namoro, noivado e casamento com o Miguel, também engenheiro. As cartas reveladoras e silenciosas de Gabriela na sessão de tarot foram claras para ela e para mim. Não mentiram, não omitiram, um circulo magnético de verdade que penetrou, devagar,  em mim.
Nem todas quiseram expor-se ao mistério das cartas, ao risco de uma verdade muito escondida aparecer, à magia doída de algo que não se quer revelar, ao tesouro muito intimo que se quer esconder,  mas a Joana não podia recusar-se e, por isso, foi a primeira. No final ficou calada mas conheço bem aquele olhar e percebi, quase li, tudo o que a boca não disse.
Parvoíce minha não ter pensado que tudo advinha da traição, dura de engolir, que nos massacra todos os segundos quando aparece para nos perseguir os sonhos e a realidade também. Sonhos traídos são piores que qualquer dor. 

Maria Luís Koen




















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