Chegou, tocou à campainha e pediu-me para caminhar, respirar
o mar, que precisava muito. A incerteza minava -lhe a mente, o não saber o que
fazer, o que responder, o que dizer. Queria muito amar a pessoa que ele era,
com os seus defeitos algo exóticos, as paranóias fantásticas que tinha e que a
cansavam, demasiado. O desejo e o medo,
os dois que a paralizavam, não a deixavam respirar, decidir. Não queria
arrepender-se, não queria ferir e ferir-se,
também não queria esta amargura triste de nada fazer. Era como cair num
poço ou quase cair, sentia isso mesmo, a cabeça à roda, tonta de tanto pensar e
cada vez mais emaranhada nas suas próprias angústias. Noites sem dormir, a ver
o poço no fundo e as nuvens no alto. Acordar, beber leite quente para tentar
dormir. Digo que sim? Mas ele é louco. Esgota-me sempre, todos os dias, com o
seu egoísmo indecente, a sua fome individualista que me prende. Sinto-me presa,
presa, não vês? Luto pela liberdade mas quero estar na prisão. Sinto-me morrer
se o aceitar, estou já morta se não o fizer. Diz-me, isto é o quê? Amor ou
teia?
Maria Luís Koen
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