Tão
depressa veio como foi.
Disse isto cem vezes sem falar, ou talvez mais, disse
com o pensamento porque veio rápido sim, mas foi tão depressa que não deixou rasto
profundo ou sentimento que valesse a pena guardar cá dentro. Um foguete, algo
assim de sopetão, como uma imagem que surge no canto do olho quando caminhamos
no campo ou quando, sentados no sofá da sala, olhamos sem ver para a televisão.
Uma bola, gigante. Ainda assim, fui conferir se a presença dele valeu a pena, se
deixou saudade, algo que faça falta. Posso dizer que sim, que deixou silêncios
e fragmentos sem conexão, depois de dois ou três almoços. E posso dizer que
não, que falta realmente não faz mas fica sempre um vazio de não sei o quê,
talvez do nada ou do vago, que se esvazia rápido. Uma possibilidade
fragmentada ou algo que poderia fazer
sentido se o magnetismo fosse outro, que suavemente puxasse ou obssessivamente
matasse.
Talvez por isso depressa foi, por redondas travessas,
no meio da poeira de um dia seco, a fumar pensando que ninguém via o rasto da sua presença breve, ausência.
Maria Luís Koen
Sem comentários:
Enviar um comentário