Não sei se vegetar é a palavra certa, mas ela vegeta em
alegria. Abre a caixa escondida desde os tempos da faculdade e rejubila. Não
recordava já o quanto necessário é tudo
o que lá está. Não sendo, agora que remexe nos escritos, nos postais, nas
cartas e alguns recortes, nas fotos, sabe que tudo, tudo continua presente,
continua dor ausente. Por isso, guarda de novo a caixa, sem dor, quase num
segredo que é só dela e rejubila porque sabe que, se procurar, a dor volta, se remexer,
as alegrias assomam, a saudade aperta. Prefere vegetar na calma que o dia lhe
oferece, pensar nas coisas bonitas que , agora, raramente acontecem, aceitar
que deu sem receber grande coisa, sei lá, aceitar saber coisas das pessoas que
nem elas próprias conhecem, olhá-las e ler o que vai lá dentro, perceber que
muitas vezes são más mesmo sendo boas. Isso não seria bem aceite, diria até que
jamais seria perdoada, amada. É só respirar fundo e calmamente viver sem sentir
nada, nada que de facto incomode, ou sentir alguma coisa, como o cheiro das
rosas que estão no canteiro, vermelhas, com picos. Isso sim, interessa, pede atenção e alegria, sem nada esperar, nada.
Maria Luís
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