domingo, 23 de maio de 2021

Memórias

 


                                                                     jouke kruijer


      Não sei se vegetar é a palavra certa, mas ela vegeta em alegria. Abre a caixa escondida desde os tempos da faculdade e rejubila. Não recordava já o quanto  necessário é tudo o que lá está. Não sendo, agora que remexe nos escritos, nos postais, nas cartas e alguns recortes, nas fotos, sabe que tudo, tudo continua presente, continua dor ausente. Por isso, guarda de novo a caixa, sem dor, quase num segredo que é só dela e rejubila porque sabe que, se procurar, a dor volta, se remexer, as alegrias assomam, a saudade aperta. Prefere vegetar na calma que o dia lhe oferece, pensar nas coisas bonitas que , agora, raramente acontecem, aceitar que deu sem receber grande coisa, sei lá, aceitar saber coisas das pessoas que nem elas próprias conhecem, olhá-las e ler o que vai lá dentro, perceber que muitas vezes são más mesmo sendo boas. Isso não seria bem aceite, diria até que jamais seria perdoada, amada. É só respirar fundo e calmamente viver sem sentir nada, nada que de facto incomode, ou sentir alguma coisa, como o cheiro das rosas que estão no canteiro, vermelhas, com picos. Isso sim, interessa, pede  atenção e alegria, sem nada esperar, nada. 


Maria Luís

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