Henry Moore
O cheiro do mar, o cheiro da
chuva, os pés enrolados na manta, a música baixinho. Era sempre tão bom estar
ali nesses dias ainda sem muito frio. O Inverno era mais agreste mas não me
importava de correr com o guarda chuva aberto, rápida, com o casaco bem
apertado em direcção à pastelaria, para aí me sentar, molhada, cansada, mas
feliz. Geralmente nesses dias chovia sem parar, as pessoas ao lado a protestar,
que não havia taxi, que não podiam sair. Fazia tanto frio! A humidade do mar e
da chuva colava-se à roupa, as vozes sussurradas de café e eu sem querer saber.
Nesses dias gostava da chuva, do frio, do nariz roxo, da correria nas poças de
agua a caminho de casa, as calças e os pés molhados, as mãos geladas apesar das
luvas. Às vezes ele vinha e abríamos uma garrafa de vinho, eu ainda cansada da
correria à chuva, esfomeada, sentava-me no quente e seco da lareira e era um
bocadinho eu. Outras vezes não lhe abria a porta, ficava parada no tempo ou
algures num devaneio, sem conseguir sair daquela espécie de poça de
lama. Ficava parada em frente a um muro
cinzento que me impedia de avançar. Trovejava muitas vezes, fazia um esforço
grande para afugentar o torpor, inventava um sorriso e, sem pressa, corria em
direcção a ele, outra vez, abrindo a porta no meio da chuva, porque era esse o
caminho certo para chegar inteira ao destino.
Maria Luís Koen
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