sábado, 13 de abril de 2019



TRÊS


Petru Botezatu


Ele é engraçado. Verdade! Diria até espantoso mas, afinal, mostrou-se mera fachada feita de mármore branco, daquele bonito e macio que vemos no cemitério. Raramente se desesperava e eu admirava isso, a dinâmica que impunha a si próprio, mostrando que era bom viver, espalhando um ilusório brilho imenso. De repente, digo-te que ficou lamento. 
Eu vi como o vento soprou e apagou toda aquela chama, eu vi como o brilho se transformou em cinza, eu vi que a luz ficou fosca. Aquilo que parecia ser uma coisa boa, desapareceu, esfriou, quebrou. Compreendes? 
Não é amargura, não é falta de entendimento, não  é agressividade. É despertar e perceber que o tempo mostrou que a verdade era uma grande mentira. 
Clarividência!!
Fiquei farta de o ouvir. 
Como quando fomos àquele espectáculo, lembras-te? Aí, fiquei farta de ouvir estereótipos de desgraças alheias, de palmas forçadas de quem fingiu que percebeu todas as palavras declamadas. Confesso-te, suspirei de alívio, porque tudo tinha chegado ao fim – todas as luzes, todos os lamentos, todos os passos estudados. Pude sair depressa e respirar o ar gélido, pude voltar ao carro e chegar ao aconchego da casa, quente.
Farta de ouvir a lengalenga dele.
Farta de ouvir a lengalenga do suicídio daquela, da pobreza do outro, do choro da prima, da gargalhada ignorante dos outros que nada entendem mas falam de tudo. 
Ainda bem que cheguei rápido, ainda bem que a casa estava quente, ainda bem que liguei a TV sem o som, ainda bem que o telefone não tocou e que ele não ligou.


Maria Luís Koen 

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