QUATRO
Maria Magdalena Oosthuizen
Disseste que estava frágil nos seus muitos anos, que o corpo não obedecia.
Quando a vi, a sombra do candeeiro tapou os olhos já vazios, o descontrolo das mãos. Sim, houve um silencio inicial, aquele momento em que acendeste um cigarro para disfarçar o sentimento. Ligaste a luz do tecto para que a nitidez crua das emoções não se pudesse esconder na sombra do mesmo candeeiro.
Veio a conversa conveniente de quem nada diz, nada quer dizer - a conversa à volta do nada até começar a ser tudo. Há uma distancia física que se impõe, ao mesmo tempo que uma transmutação parece surgir vinda de outra dimensão, tudo parece ficar dito nos silêncios. Mas elas surgem, as palavras, envoltas numa qualquer luz mágica. Surgem temerosas e sossegadas, a dizer que o futuro parece sempre incerto. E vemos a certeza, pouco inocente, que é hora de mergulhar na verdade encantada, com roupas brancas cintilantes.
Apagas o candeeiro e ela parte.
Maria Luís Koen
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