(@Leonid Afremov)
Acordar às sete e sair para caminhar. Todos os dias,
Inverno ou Verão, sempre a mesma rotina – um meio de limpar as teias confusas
que baralham, varrer as ideias, às vezes tristes, sacudir as possíveis
depressões. Acordo às seis. Quando chove, oiço as pingas a bater no asfalto da
rua. Continuo de olhos fechados, imagino o cheiro e é alívio. Levanto-me. Vou.
Caminho sem saber por onde. Passo seguido de outro passo. Encontro a Zilda. Por
vezes caminhamos juntas, outras vezes cada uma segue o seu caminho, as suas
motivações. Quando juntas não falamos muito. Apenas algumas palavras de alento
ou cortesia. Não é isso que buscamos. Cada uma com os seus pensamentos, ela e
eu, respiramos em sintonia, com ou sem alento, o ar sempre frio da manhã. A
Zilda forte, a Zilda fraca, a Zilda das mil faces, a Zilda eu, todos os dias
sai, mesmo com dores, alegre ou triste, sem prescindir do caminho, deste
caminho, destas pedras soltas, deste ribeiro que corre, devagarinho, ao lado
das mesmas árvores, as de todos os dias.
Maria Luís Koen