quarta-feira, 21 de abril de 2021

Com ou sem alento

 

                                                                 (@Leonid Afremov)

Acordar às sete e sair para caminhar. Todos os dias, Inverno ou Verão, sempre a mesma rotina – um meio de limpar as teias confusas que baralham, varrer as ideias, às vezes tristes, sacudir as possíveis depressões. Acordo às seis. Quando chove, oiço as pingas a bater no asfalto da rua. Continuo de olhos fechados, imagino o cheiro e é alívio. Levanto-me. Vou. Caminho sem saber por onde. Passo seguido de outro passo. Encontro a Zilda. Por vezes caminhamos juntas, outras vezes cada uma segue o seu caminho, as suas motivações. Quando juntas não falamos muito. Apenas algumas palavras de alento ou cortesia. Não é isso que buscamos. Cada uma com os seus pensamentos, ela e eu, respiramos em sintonia, com ou sem alento, o ar sempre frio da manhã. A Zilda forte, a Zilda fraca, a Zilda das mil faces, a Zilda eu, todos os dias sai, mesmo com dores, alegre ou triste, sem prescindir do caminho, deste caminho, destas pedras soltas, deste ribeiro que corre, devagarinho, ao lado das mesmas árvores, as de todos os dias.


Maria Luís Koen


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