sábado, 10 de abril de 2021

Tormenta

 

                                                                (Inna Montano)


Não é uma mulher comum. Nunca foi. E ela sabe que eu sei que ela é diferente. Não mora na minha rua mas todos os dias a vejo. Da janela do meu quarto, quando a abro, eu pressinto aquele andar leve que ela tem e vejo. O amor deve ser assim, penso. Não há outra maneira. E, talvez por isso, o ódio que tenho de não a conhecer, também cresce. Amor e ódio numa só mulher. Parece loucura mas é assim que sinto. Todos os dias sou o mais doido dos doidos por ver os olhos dela em cada esquina, bocas cheias de beijos. Quando falei disto ao meu amigo, ainda riu e disse que já passara pela tormenta. É isso. Fiquei com a palavra tormenta, escrevi-a num papel que tenho no quarto para dela não me esquecer. Guardei o papel na gaveta, junto a outros tantos com outras tantas palavras e, todos os dias, uma ou mais vezes, abro a gaveta, remexo os papéis soltos e surge sempre aquele escrito com a palavra tormenta. Talvez porque é disso que me alimento. Um doido varrido atormentado é o que sou. Ainda mais porque deixei de a ver da minha janela ou de outro sítio qualquer. 

Ficou frio e tenho sede, faz-me falta o que não vivi.



Maria Luís Koen

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