O telhado tem telhas quebradas, tu sabes, o
vento assobia por ali ou talvez não seja o vento. Talvez sejam as asas de
Pégaso, no seu voo de liberdade. Abri as janelas e as portas para que ele
pudesse voar por entre os trovões que se aproximam e me deixam o espírito ainda
mais molhado. Ele voa livre como quero que tu voes, sei que precisas do teu
espaço, do teu tempo. É o teu tempo. Não posso deixar-te preso no meu quintal,
não posso ver-te entristecer e murchar como as flores que me esqueço de regar. Não
te quero ver caído e morto ou vivo e mascarado. E tu preferes ficar sentado ,
sem nada dizer ou falar, hipnotisado pelas asas do cavalo alado. Não sei quem
vence, se a vida, se a morte, mas tudo desaparece no tempo. Temos pouco, tu
sabes, é melhor dizer e fazer tudo agora porque se não dissermos ou fizermos , não sei, ficaremos
incompletos e não teremos vivido, ou teremos, mas será sempre uma vida material
e breve, de uma dimensão apenas, não vislumbraremos o outro lado, não nos
libertaremos do que é real, e nós
sabemos que há sempre algo para observar quando chove e há outros cheiros.
Leva-nos cavalo alado, leva-nos contigo para
que possamos renascer e viver para além da superfície.
Maria Luís Koen