We are here. We have always been here.
O telhado tem telhas quebradas, tu sabes, o
vento assobia por ali ou talvez não seja o vento. Talvez sejam as asas de
Pégaso, no seu voo de liberdade. Abri as janelas e as portas para que ele
pudesse voar por entre os trovões que se aproximam e me deixam o espírito ainda
mais molhado. Ele voa livre como quero que tu voes, sei que precisas do teu
espaço, do teu tempo. É o teu tempo. Não posso deixar-te preso no meu quintal,
não posso ver-te entristecer e murchar como as flores que me esqueço de regar. Não
te quero ver caído e morto ou vivo e mascarado. E tu preferes ficar sentado ,
sem nada dizer ou falar, hipnotisado pelas asas do cavalo alado. Não sei quem
vence, se a vida, se a morte, mas tudo desaparece no tempo. Temos pouco, tu
sabes, é melhor dizer e fazer tudo agora porque se não dissermos ou fizermos , não sei, ficaremos
incompletos e não teremos vivido, ou teremos, mas será sempre uma vida material
e breve, de uma dimensão apenas, não vislumbraremos o outro lado, não nos
libertaremos do que é real, e nós
sabemos que há sempre algo para observar quando chove e há outros cheiros.
Leva-nos cavalo alado, leva-nos contigo para
que possamos renascer e viver para além da superfície.
Maria Luís Koen
És múltiplas
dimensões
um guardador de segredos.
És o
silêncio que me cerca
a voz
invisível
o poder
o ar e o
vento
a fonte
mistério.
Teus olhos
são janelas
guardiãs de palavras ditas
sonhos nossos
de fartura.
E depois
Há o que o
pensamento não
explica
A visão sem
limites.
És tu.
Tu és a
verdade
E nada
mais.
És lince.
Maria Luís Koen
Quem te quiser ver
bate à tua
porta e vê
ou não
e olha.
Se quiseres
tu ver
bates àquela
porta e esperas.
Ficas mal
se não querem abrir
e não olhas
não dizes
não dás.
Momentos
chave-
- tristes, se
com maldade adiados
-alegres, se com amizade saudados.
Por vezes
soltam palavras ocas,
as bocas,
com pouco
significado
a dizer
aquela desculpa:
- o Natal
não é hoje, é sempre que um homem quiser
- o Ano
Novo é :
amanhã telefono
amanhã passo
aí
amanhã vou
amanhã.
Frases que
escondem o
NÃO
Não te
quero aqui
Não quero
conversa
Não quero
saber se me queres bem
Não quero
saber se estás bem.
Mas
quem te
quer olhar, sabe.
Sabe onde
estás e o que sentes.
Quem te
quer,
quer
e tu
sentes.
Quem só
finge que te quer
tu vês
sabes
sabes que é
só mentira.
Por isso
quem quiser
vir
eu abro a
porta.
Que venha
com amor e fique
Uma minha
pessoa
Pessoa minha.
Feliz Ano Novo!!
Maria Luís Koen
janusz orzechowski
Foi ao cinema, alegre, feliz como já
não acontecia desde que mudou de cidade e de vida. Parecia fantástico estar ali
viva, depois de quase uma ano em que desacreditou tudo o que viveu, em que, doente,
deixou de agir e pensar positivo, como hoje, como agora. Bilhetes na mão,
aguarda na fila como se fosse a primeira vez num cinema, numa sala escura,
cheia de olhos ou contornos escuros de cabeças. Sim, olha em redor e pensa que
renasceu ou recomeçou - um novo começo, o presságio de algo, finalmente bom.
Não lhe interessa o murmúrio do casal ao lado, o facto de continuar com medo. Não,
ela sabe que é assim, que a vida acontece em cada instante, as coisas fluem, as
pessoas ficam ou seguem o seu caminho. Aguarda, no silêncio que se faz na sala,
o começo de uma história em que não tem que tomar decisões, apenas fluir na
paciência ou impaciência que o filme lhe vai trazer. Está feliz.
Só queria ser feliz contigo.Sento-me na areia, com vento e sol, ao amanhecer e, por vezes, ao anoitecer. Penso como é insuportável imaginar que posso deixar de te provar e às tuas emoções. As coisas continuam, há perdas, eu sei, mas gostava de ver tudo claramente quando olho para ti, e não consigo. Não é falta de oportunidade ou falta de luz, é o constante do dia a dia, talvez, ou o obscuro medo de te perder que me deixa , assim, inerte, esquecida de sorrir, parada, sentindo tudo e nada.
À mesa do café bebo o que os teus olhos dizem. Na acalmia do dia vejo, sem erro ou mania, que nada é perfeito, nem nós. És como um espelho que nos mostra o começo ou o fim. Ambos sabemos, mesmo sem palavras, no meio de um cigarro aceso lentamente, sabemos sempre, às vezes até com delicadeza, que houve um erro. O erro de chamarmos amor, ou o descuido, a pressa, de entrar e estar dentro do que dizem ser bom. Quem errou não sei. É fim da tarde, cheira a mar e quero mesmo é ter saudade do brilho que ficou, da fome que está por vir.
Maria Luís Koen
Não sei se vegetar é a palavra certa, mas ela vegeta em
alegria. Abre a caixa escondida desde os tempos da faculdade e rejubila. Não
recordava já o quanto necessário é tudo
o que lá está. Não sendo, agora que remexe nos escritos, nos postais, nas
cartas e alguns recortes, nas fotos, sabe que tudo, tudo continua presente,
continua dor ausente. Por isso, guarda de novo a caixa, sem dor, quase num
segredo que é só dela e rejubila porque sabe que, se procurar, a dor volta, se remexer,
as alegrias assomam, a saudade aperta. Prefere vegetar na calma que o dia lhe
oferece, pensar nas coisas bonitas que , agora, raramente acontecem, aceitar
que deu sem receber grande coisa, sei lá, aceitar saber coisas das pessoas que
nem elas próprias conhecem, olhá-las e ler o que vai lá dentro, perceber que
muitas vezes são más mesmo sendo boas. Isso não seria bem aceite, diria até que
jamais seria perdoada, amada. É só respirar fundo e calmamente viver sem sentir
nada, nada que de facto incomode, ou sentir alguma coisa, como o cheiro das
rosas que estão no canteiro, vermelhas, com picos. Isso sim, interessa, pede atenção e alegria, sem nada esperar, nada.
Maria Luís
(Ranaking)
Quando menos esperamos, tudo acontece.
Sim, é isso mesmo que ouves, desculpa este telefonema
sem nexo, desculpa acordar-te para dizer ninharias, mas para mim não são, são
só o pretexto para ouvir a tua voz, mesmo que zangada, irada por te acordar de
madrugada. Não consigo mais continuar neste jogo do sim e do não, ou do meio
sim e do meio não ou outro qualquer cujo nome não sei, mas assim, assim vou
continuar a ligar-te de madrugada para te ouvir zangada.
Não quero ser precipitado e não te quero assustar com
estes ímpetos noturnos, mas não posso continuar sem dormir. Ontem dormi tão
pouco, talvez duas ou três horas, não sei precisar, e nas noites anteriores
pouco mais. Por isso, não quero saber se ficas irada, porque agora tudo gira
dentro de mim, do meu pensamento e já não tenho medo de poder ficar sozinho,
ficar sem ti, vazio.
Desculpa os telefonemas, não sei se vou conseguir não ouvir a tua voz, mesmo que irada. Não destruas isto que está prestes a acontecer, não faças isso. Vou chorar-
-minto. Ainda
me resta alguma dignidade, mesmo a implorar. Já te imagino a cair comigo numa
espécie de ratoeira de angústia, individualista, onde as promessas não serão
cumpridas e, por isso, não quero ficar
calado, não posso viver, não quero ficar sem ti.
Maria Luís Koen
( Lia Melia)
Nada para ser dito.
Sei
das palavras gastas,
gestos iguais ao
início.
Performance.
O amor a não ser
desejo
e fome
Na boca em
mãos misturadas
nos cheiros
Até nada continuar
a ser dito
Até nada dito
Nada.
Pode ser o fim.
Maria Luís
(@Leonid Afremov)
Acordar às sete e sair para caminhar. Todos os dias,
Inverno ou Verão, sempre a mesma rotina – um meio de limpar as teias confusas
que baralham, varrer as ideias, às vezes tristes, sacudir as possíveis
depressões. Acordo às seis. Quando chove, oiço as pingas a bater no asfalto da
rua. Continuo de olhos fechados, imagino o cheiro e é alívio. Levanto-me. Vou.
Caminho sem saber por onde. Passo seguido de outro passo. Encontro a Zilda. Por
vezes caminhamos juntas, outras vezes cada uma segue o seu caminho, as suas
motivações. Quando juntas não falamos muito. Apenas algumas palavras de alento
ou cortesia. Não é isso que buscamos. Cada uma com os seus pensamentos, ela e
eu, respiramos em sintonia, com ou sem alento, o ar sempre frio da manhã. A
Zilda forte, a Zilda fraca, a Zilda das mil faces, a Zilda eu, todos os dias
sai, mesmo com dores, alegre ou triste, sem prescindir do caminho, deste
caminho, destas pedras soltas, deste ribeiro que corre, devagarinho, ao lado
das mesmas árvores, as de todos os dias.
Maria Luís Koen
(vytautas .poska)
Chega desta constante falta. Já basta. Agora tenho que caminhar de novo, procurar outras paisagens. Não há outro remédio. Vou direto a Paris ou Londres ou outra qualquer capital onde sou um incógnito passageiro em busca de um novo caminho, não sei se de paz, mas um caminho que me ofereça beleza, que seja branco e nada sinuoso. A falta vai existir sempre. Falta sempre alguma coisa, até na felicidade. Mas vou. Sei que vai ser duro, sei que vou ter fome do que deixei e que vou sentir frio, também, ou talvez aconteça o oposto e nada disto, nada destes temores e pensamentos negativos, apareça. E, em vez deles, outras flores, que permitam desencadear um novo processo, um novo caminho e sejam a fonte, a porta, o outro lado do muro.
Maria Luís Koen
(Victor Nizovtsev)
Tentou muitas vezes não errar, escolher a pessoa
certa, aquela cujas vibrações fossem muito positivas, que lhe trouxessem calma
e não agitação, tentou, mas pensa não ter conseguido descobrir essa pessoa.
Depois de tanta busca, de tanto mirar e escrutinar essa gente que passa por ela
e fica, por vezes, alguns momentos, ou dias, ou então meros segundos, chega à
conclusão que está cansada dessa busca e que, pelo menos nesta vida, essa
pessoa certa, a existir, não será encontrada. Às vezes parece, aquela mesmo,
ser a tal, até pelo cheiro que dela emana, pelo brilho com que ilumina os
outros na sua presença, mas não, não é aquela que precisa, não é aquela que lê nos silêncios.
Então sente-se cansada e roubada na alegria de finalmente a ter encontrado,
quando afinal tudo era farsa.
Maria Luís Koen
(jean jacques rene)
Olha, hoje encontrei-te no café e estavas triste.
Tentaste disfarçar esse sentimento mas sei que é forte, conheço bem o motivo. Desfolhei
o album de fotografias que me mostraste em tua casa, algumas carcomidas pelo
tempo, outras mais recentes e sei como é difícil alguém não estar mais
presente. Olha, o meu coração está mais perto do teu agora, do que quando tudo
aconteceu. Agora oiço a mesma sinfonia, aquela que tu gostas tanto de comentar
e, quando a brisa sopra quente, como hoje, os cheiros da Primavera fazem-me esquecer o resto. Então, digo- te: sei
que felizes, sempre, sempre, nunca somos, mas alguns conseguem habitar jardins
encantados, levando com eles outros, em direção à luz.
Maria Luís Koen
Todo o dia choveu e fechei muitas vezes os olhos para
não te ver. Confesso que queria muito abraçar-te, olhar para os teus olhos
doces, ouvir as tuas palavras calmas e risadas alegres. Mas morreste. Morreste
-me. Morreste para mim e para os outros. E é por isso que fecho os olhos
enquanto a chuva cai. Fecho para não ver
a tua imagem e fecho porque ao fechá-los, vejo-te com uma dimensão maior. Só
com os olhos fechados consigo imaginar os risos que não vou mais ouvir, as
frases que não vais dizer nunca mais, os gestos que nunca iremos ter. Por isso
não escondo a dor, esta amargura de nunca mais te ver sorrir.
Maria Luís Koen