A Roda
O ar é límpido. Sinto-o nas narinas, como a deixar-me
viva, sem me faltar, sem me sufocar. É tudo claro: a água do lago e as nuvens,
o cão branco que rasga a terra em fúria. Como se todos os tons, todas as cores,
se fundissem numa só: aquela. Não posso dizer que é fria, como já uma vez foi.
Ou áspera, naquelas memórias que fazemos por esquecer. Rodeia-me uma
luminosidade que não me choca, que eu não temo, que só eu vejo. É só minha,
pertence-me. Só eu a percebo no meio da tralha do apartamento, na sombra das
árvores do condomínio. Só eu vejo o encanto e saboreio.
A vida tem muitos tons. Variam quando nela mergulhamos
aos quinze ou aos cinquenta anos. Observamo-la de perspectivas e ângulos
diferentes. Também dela nos alimentamos com um entusiasmo e calor em nada
semelhantes.
Parece muitas vezes rápida, muitas vezes lenta, tantas
vezes desinteressante, principalmente quando a comparamos com a vida dos outros
que nos rodeiam. Mas isso não é verdade:
temos estórias para contar, estórias que não contamos e estórias que ainda não
aconteceram. Somos estória, fazemos estórias. São dramas e alegrias, segredos e
orgulhos feridos ou partilhados, todos fios do mesmo novelo que enrolamos e
desenrolamos, cortamos com incansável labor.
Todos pintamos. Somos pintores de um quadro
interminável em que há sempre algo a acrescentar, a modificar: carregar um
pouco mais aquela cor, suavizar ou matizar aquela imagem. Também tecemos e
bordamos, tricotamos diferentes momentos que desenham puzzles, loucuras.
Desenleamos os nós, pesadelos, ou tentamos, misturamos tudo, mais ou menos, ou
nada. Construímos, destruímos, refazemos. Agora um cachecol colorido com
desenhos de outros, depois uma camisola à medida de nós mesmos, ainda uma outra
peça que queremos. Às vezes não. Escolhemos o modelo ou nem tanto. Vivemos.
Fingimos. Amamos. Morremos. Renascemos.
Tudo é
possível. Tão possível como o momento, agora, este.
A Roda
O ar é límpido. Sinto-o nas narinas, como a deixar-me
viva, sem me faltar, sem me sufocar. É tudo claro: a água do lago e as nuvens,
o cão branco que rasga a terra em fúria. Como se todos os tons, todas as cores,
se fundissem numa só: aquela. Não posso dizer que é fria, como já uma vez foi.
Ou áspera, naquelas memórias que fazemos por esquecer. Rodeia-me uma
luminosidade que não me choca, que eu não temo, que só eu vejo. É só minha,
pertence-me. Só eu a percebo no meio da tralha do apartamento, na sombra das
árvores do condomínio. Só eu vejo o encanto e saboreio.
A vida tem muitos tons. Variam quando nela mergulhamos
aos quinze ou aos cinquenta anos. Observamo-la de perspectivas e ângulos
diferentes. Também dela nos alimentamos com um entusiasmo e calor em nada
semelhantes.
Parece muitas vezes rápida, muitas vezes lenta, tantas
vezes desinteressante, principalmente quando a comparamos com a vida dos outros
que nos rodeiam. Mas isso não é verdade:
temos estórias para contar, estórias que não contamos e estórias que ainda não
aconteceram. Somos estória, fazemos estórias. São dramas e alegrias, segredos e
orgulhos feridos ou partilhados, todos fios do mesmo novelo que enrolamos e
desenrolamos, cortamos com incansável labor.
Todos pintamos. Somos pintores de um quadro
interminável em que há sempre algo a acrescentar, a modificar: carregar um
pouco mais aquela cor, suavizar ou matizar aquela imagem. Também tecemos e
bordamos, tricotamos diferentes momentos que desenham puzzles, loucuras.
Desenleamos os nós, pesadelos, ou tentamos, misturamos tudo, mais ou menos, ou
nada. Construímos, destruímos, refazemos. Agora um cachecol colorido com
desenhos de outros, depois uma camisola à medida de nós mesmos, ainda uma outra
peça que queremos. Às vezes não. Escolhemos o modelo ou nem tanto. Vivemos.
Fingimos. Amamos. Morremos. Renascemos.
Tudo é
possível. Tão possível como o momento, agora, este.
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