Pétalas - estória 2
(quadro de Marisa Reve)
2.
Sentia muito a falta
de algo extremamente forte ou extremamente suave. Precisava mesmo muito de algo,
mas não sabia muito bem o quê. Era perseguida por esse vazio, essa falta, esse
querer tanto. Até lhe doía o corpo, o
pensamento era de agonia, os olhos palpitavam de tanto querer esse algo que não
vinha. Essa espécie de sentimento que a perseguia era terrível – como se
durante dez meses não houvesse sol, como se caminhasse numa estrada poeirenta
que não tivesse fim. Era assim que Rita
sentia. Como uma danada, aterrorizada pela falta do que tanto desejava, sem
saber o quê. Por isso ninguém a entendia e ela não se fazia entender. Só dizia
que lhe doía tudo, uma dor sem remédio e chorava sem saber porquê.
Enrolada na capa de
lã, fazia caminhadas pelas ruas e pelos campos, perdida numa busca que parecia
não ter fim. Se lhe perguntavam dizia que sim, que era aquilo que queria. Aquilo o quê? A busca, buscar não sei o quê.
Buscar a alegria, aquilo que me falta. O que te falta? Falta-me não sei o quê.
Não sei, gritava. Não sei o que me falta, não sei o que falta!
Perdia-se nessa
loucura, nessa tormenta de querer sem saber o quê. Sem perceber que há sempre
algo que nos faz falta. É mesmo assim. Faz-nos sempre falta algo.
Um dia Rita procurou demais.
Nas nuvens quando
olhou para o céu, nos campos quando mirou as searas ondulantes, no mar quando
quis saborear o sal, nas memórias, nos jardins em frente à casa, nos desenhos
de Dali, nos recônditos da sua sede, sem conseguir parar a busca.
Branca, pálida e
perdida no desejo, deixava os dias passar, os meses, cada vez mais fraca, mais
débil, na dor de nada conseguir encontrar.
Não conseguia parar,
não conseguia voltar.
(continua)
Maria Luís Koen
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