continuação
João Alfaro
- Queres um whisky?
- Pode ser.
Vou buscar os copos, o balde do gelo e o
whisky.
- Bebo sem gelo, ela diz.
Saboreamos ambas o acre-doce da bebida, sorrimos:
- Que merda de vida!
…
Amélia acabou por dormir no sofá. Bebeu
demais, estava agitada, não valia a pena ir de elevador para o primeiro direito
do número ao lado, podendo ali ficar. A náusea que bem conheço, ninguém quer
ficar com ela a vida toda. Às vezes acordava às cinco da manhã, agora já nem
tanto, bebia uns gins para acalmar, ficava zonza, com as palavras a querer
brotar, tentando que o alívio chegasse, que a tormenta passasse. Valia tudo. Os
cigarros que ardiam na garganta, os posts intermináveis na internet, os filmes
sem legenda, não interessava o quê. Tudo servia para me libertar do peso de
pensar, do pes0 de sentir a amargura, do destempero da raiva, da irritação
agitada da alma.
Quando acordei, às sete e trinta, tomei um duche quente e rápido
e só depois a acordei. Tinha os olhos inchados e pretos da maquilhagem por
tirar.
- Não trabalhas hoje, Amélia?
- Obrigada, amiga. Soube-me bem ficar contigo a falar destas
coisas que sinto.
- Se precisares de roupa tens aqui toalhas limpas e na cozinha
tudo o que precisas. Vou ter que sair agora para não apanhar muito trânsito.
Fecha bem a porta quando saíres.
- Obrigada, Ana.
- Convida-me para jantar. Quero conhecer a Mafalda, sorri.
Maria Luís Koen
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