domingo, 16 de junho de 2013

A roda - continuação

A Roda
continuação

João Alfaro

- Queres um whisky?
- Pode ser.
Vou buscar os copos, o balde do gelo e o whisky.
 - Bebo sem gelo, ela diz.
Saboreamos ambas o acre-doce da bebida, sorrimos:
- Que merda de vida!
                                    …
Amélia acabou por dormir no sofá. Bebeu demais, estava agitada, não valia a pena ir de elevador para o primeiro direito do número ao lado, podendo ali ficar. A náusea que bem conheço, ninguém quer ficar com ela a vida toda. Às vezes acordava às cinco da manhã, agora já nem tanto, bebia uns gins para acalmar, ficava zonza, com as palavras a querer brotar, tentando que o alívio chegasse, que a tormenta passasse. Valia tudo. Os cigarros que ardiam na garganta, os posts intermináveis na internet, os filmes sem legenda, não interessava o quê. Tudo servia para me libertar do peso de pensar, do pes0 de sentir a amargura, do destempero da raiva, da irritação agitada da alma.
Quando acordei, às sete e trinta, tomei um duche quente e rápido e só depois a acordei. Tinha os olhos inchados e pretos da maquilhagem por tirar.
- Não trabalhas hoje, Amélia?
- Obrigada, amiga. Soube-me bem ficar contigo a falar destas coisas que sinto.
- Se precisares de roupa tens aqui toalhas limpas e na cozinha tudo o que precisas. Vou ter que sair agora para não apanhar muito trânsito. Fecha bem a porta quando saíres.
- Obrigada, Ana.
- Convida-me para jantar. Quero conhecer a Mafalda, sorri.

Maria Luís Koen


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