nathalie fougeras
Abro a porta e eis Amélia que aparece. Está já frio, o Verão
passou, o gorro e as luvas assim o demonstram. Entra sem cerimónia, descalça as
botas, tira o casaco e afins:
- Mmmm, aqui está quentinho!
- Algum problema, Amélia?
-Decidi visitar-te, vizinha. Espero que não te importes. Estava sozinha e apetecia-me um
pouco de companhia. Fazes um chá?
Vou até à cozinha que é pequena como todo o
apartamento, à excepção da sala. Os móveis são
em madeira clara, em contraste com os cortinados, de um tom que parece variar
de acordo com a cor do mar. Procuro a cafeteira eléctrica, que encho de água do
luso, preparo o tabuleiro com duas chávenas da Vista Alegre, o açucareiro e o
bule. Abro o armário:
- Canela ou maçã? Ou queres chá verde?
- Canela e maçã está bem.
Enquanto espero que a água da cafeteira
ferva, pergunto-me o porquê de tão inesperada visita e tão pouco habitual na
minha vizinha de condomínio, e amiga, Amélia. Só quando fui visitar o apartamento
com o senhor Isaac é que percebi porque o nome do condomínio não me era
totalmente estranho. Afinal a Amélia era a moradora do número cinco e, quando
ainda nesse dia lhe telefonei a contar que tinha acabado de ver e estabelecer o
primeiro acordo para a compra de um T2 no número sete do seu condomínio, ela
disse “Não sei se fizeste bem”. Mas, na excitação do momento, não liguei ao que
me disse a minha futura vizinha e ainda não tivera oportunidade ou a lembrança
de lhe perguntar a razão de tal reacção. Talvez hoje consiga perceber porque
não fiz bem em ser proprietária no Condomínio da Roda. Oiço-a a colocar mais lenha na lareira,
a mudar o cd de música e a comentar os vasos de flores que dão colorido à sala.
Continua
Maria Luís Koen
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