segunda-feira, 10 de junho de 2013

A roda - continuação

A Roda
continuação


Patricia Ariel

-Não aguentava mais, Ana, tinha que contar isto a alguém. Saí de casa dela, não quis ficar. Durante a viagem de duas horas senti um enorme desejo de dizer isto a alguém. À Joana, nem pensar, ela não ia entender. A Roberta é minha amiga desde sempre, acho que nem sonha que eu gosto mesmo é de mulheres. A Júlia é demasiado séria para saber uma coisa destas, por isso digo-te a ti.
Que dizer nestes momentos, meu Deus, e porquê a mim? Porque sou psicóloga?
- E que queres que faça com essa informação?
- Não estás surpreendida ou chocada?
- Não. Sim. Um pouco. Isto é, só não estava à espera de uma revelação como essa, numa quinta feira às dez da noite.
- Pois é. Desculpa, Ana. Andei às voltas no carro, com o coração apertado e a pensar, porque não hei-de dizer? Tenho que dizer! Preciso dizer. Preciso de te dizer, Ana.
- E essa Mafalda quem é?
- Conheci-a através da internet.
As pessoas conseguem, ainda, surpreender-me. E Amélia, que sempre achei sensaborona, surge agora perante mim com uma nova luminosidade. É uma luz crua, despida de floreados, sem mistério. É uma luz de fogueira, quente, contam apenas as brasas, as cinzas espalham-se quando vem a brisa, às vezes vento. 

(continua)
Maria Luís Koen




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