continuação
Patricia Ariel
-Não aguentava mais, Ana, tinha que contar
isto a alguém. Saí de casa dela, não quis ficar. Durante a viagem de duas horas
senti um enorme desejo de dizer isto a alguém. À Joana, nem pensar, ela não ia entender. A Roberta é minha
amiga desde sempre, acho que nem sonha que eu gosto mesmo é de mulheres. A
Júlia é demasiado séria para saber uma coisa destas, por isso digo-te a ti.
Que dizer nestes momentos, meu Deus, e porquê a mim? Porque sou
psicóloga?
- E que queres que faça com essa informação?
- Não estás surpreendida ou chocada?
- Não. Sim. Um pouco. Isto é, só não estava
à espera de uma revelação como essa, numa quinta feira às dez da noite.
- Pois é. Desculpa, Ana. Andei às voltas no carro, com o coração apertado e a pensar,
porque não hei-de dizer? Tenho que dizer! Preciso dizer. Preciso de te dizer, Ana.
- E essa Mafalda quem é?
- Conheci-a através da internet.
As pessoas conseguem, ainda, surpreender-me.
E Amélia, que sempre achei sensaborona, surge agora perante mim com uma nova
luminosidade. É uma luz crua, despida de floreados, sem mistério. É uma luz de
fogueira, quente, contam apenas as brasas, as cinzas espalham-se quando vem a
brisa, às vezes vento.
(continua)
Maria Luís Koen
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