segunda-feira, 17 de junho de 2013

9. Mafalda

A Roda

Ira Tsantekidou

9.
MAFALDA
Olhos cor de violeta e o cabelo ruivo, escuro, comprido. As sardas espalham-se pelo nariz e o sorriso maroto parece irradiar simpatia. É diferente de todas as mulheres que conheço. Não a consigo ler. Detesto isso. Na minha profissão habituei-me a observar os gestos. Às vezes, estes dizem mais do que as palavras ou dizem o oposto porque são feitos involuntariamente e espelham as emoções, pensamentos e personalidade da pessoa. Todos os psicólogos e psicanalistas valorizam a comunicação não verbal. Sempre fui intuitiva, sempre dei grande importância aos sinais, muitas vezes mais relevantes do que as próprias palavras, que podem ser enganadoras. Mas este é um dom de família e de muitas mulheres. O que senti quando a vi foi avassalador, estranho: os olhos dela eram iguais aos dele quando eu chorei três dias e noites sem parar. Aquele vazio fundo voltou, foi difícil aceitar que aquela mulher era a maldade personificada.

- Olá Ana, já tinha ouvido falar de si.

Maria Luís Koen


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