Memórias da Aldeia
5. Os bilros
Enquanto
conversávamos na varanda, sobre o próximo jogo do monopólio com os primos, sobe uma mulher os degraus e entra para mostrar as
meias feitas em renda com quatro agulhas e o naperon feito em renda de bilros.
A
avó vai à salinha buscar a cesta dos trabalhos e mostra o par de meias em renda
até ao joelho, o seu último trabalho, para usar em dia de festa. A tia vai lá dentro buscar a cesta
onde se encontra o que está a fazer em renda.
A curiosidade é muita, os
bilros pauzinhos encantados a que se juntam alfinetes e gestos doidos, para
quem não entende nada da técnica. Ela explica, sim, mas não é fácil, a técnica.
Ela explica com a sua voz cantada e mostra como faz, muito lentamente para se
fazer entender. A almofada ou rebolo onde é colocado o desenho num cartão e
onde ela vai colocando os alfinetes à medida que o trabalho avança. Não há
agulha mas sim bilros em madeira, onde enrola os fios dos diferentes
materiais, que podiam ser algodão, seda,linha...
A tia fazia a renda com os bilros aos
pares. Parecia uma dança complicada de pauzinhos, muitos, pelo menos para mim.
O barulhinho era engraçado e tudo aquilo parecia magia. Quantos eram os bilros?
Não sei. Eram muitos, dependendo do trabalho a ser feito. Depois trocava este
por aquele, ia buscar outro e mais outro, aqui e ali, em voltas e mais voltas
de pauzinhos até o desenho ir surgindo, belo e minucioso. Uma maravilha.
Hoje
tenho pena de não ter aprendido.
Maria Luís Koen
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