sexta-feira, 3 de julho de 2020



Memórias da Aldeia

5. Os bilros






     Enquanto conversávamos na varanda, sobre o próximo jogo do monopólio com os primos, sobe uma mulher os degraus e entra para mostrar as meias feitas em renda com quatro agulhas e o naperon feito em renda de bilros. 
     A avó vai à salinha buscar a cesta dos trabalhos e mostra o par de meias em renda até ao joelho, o seu último trabalho,  para usar em dia de festa. A tia vai lá dentro buscar a cesta onde se encontra o que está a fazer em renda. 
    A curiosidade é muita, os bilros pauzinhos encantados a que se juntam alfinetes e gestos doidos, para quem não entende nada da técnica. Ela explica, sim, mas não é fácil, a técnica. Ela explica com a sua voz cantada e mostra como faz, muito lentamente para se fazer entender. A almofada ou rebolo onde é colocado o desenho num cartão e onde ela vai colocando os alfinetes à medida que o trabalho avança. Não há agulha mas sim bilros em madeira, onde enrola os fios dos diferentes materiais, que podiam ser algodão, seda,linha...     
    A tia fazia a renda com os bilros aos pares. Parecia uma dança complicada de pauzinhos, muitos, pelo menos para mim. O barulhinho era engraçado e tudo aquilo parecia magia. Quantos eram os bilros? Não sei. Eram muitos, dependendo do trabalho a ser feito. Depois trocava este por aquele, ia buscar outro e mais outro, aqui e ali, em voltas e mais voltas de pauzinhos até o desenho ir surgindo, belo e minucioso. Uma maravilha. 
     Hoje tenho pena de não ter aprendido.


Maria Luís Koen


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