Memórias da Aldeia
7.
O quebranto
Foram muitas as vezes que a avó Isabel nos
tirou o quebranto.
Bastava
estarmos mal dispostas, termos dor de cabeça ou chegadas a casa vindo de outros
lugares, cansadas, que ela, desconfiada ou preocupada, ia à cozinha, trazia um
prato cheio de água, onde deitava umas gotinhas de azeite. Umas vezes havia
reza e repetia o deitar das gotinhas do azeite na água, outras vezes ficava-se
por ali. No início não percebia a diferença, era mais pequena. Depois comecei a
colocar questões sobre o “quando é que havia reza e porquê”.
Não só a avó Isabel mas também a tia
Rosária, sua filha, sabiam e faziam este ritual. Da reza não davam conhecimento
porque, se o fizessem, perdiam de alguma maneira o poder de tirar o quebranto.
Por isso, o ritual passava entre as
mulheres da família - a reza.
Deitavam cinco pingas de azeite num prato
com água. Se o azeite se espalhasse, a pessoa tinha quebranto e a reza era
repetida até isso não mais acontecer; se se juntasse numa só bolha, estava tudo
bem.
“Deus
te viu
Deus
te criou
Deus
te livre
De
quem para ti mal olhou
Em
nome do Pai, do Filho,
E
do Espírito Santo,
Virgem
do pranto
Tirai
este quebranto”
Maria Luís Koen
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