quarta-feira, 8 de julho de 2020


Memórias da Aldeia


7. 


O quebranto






     Foram muitas as vezes que a avó Isabel nos tirou o quebranto.
    Bastava estarmos mal dispostas, termos dor de cabeça ou chegadas a casa vindo de outros lugares, cansadas, que ela, desconfiada ou preocupada, ia à cozinha, trazia um prato cheio de água, onde deitava umas gotinhas de azeite. Umas vezes havia reza e repetia o deitar das gotinhas do azeite na água, outras vezes ficava-se por ali. No início não percebia a diferença, era mais pequena. Depois comecei a colocar questões sobre o “quando é que havia reza e porquê”.
     Não só a avó Isabel mas também a tia Rosária, sua filha, sabiam e faziam este ritual. Da reza não davam conhecimento porque, se o fizessem, perdiam de alguma maneira o poder de tirar o quebranto. Por isso,  o ritual passava entre as mulheres da família -  a reza.
     Deitavam cinco pingas de azeite num prato com água. Se o azeite se espalhasse, a pessoa tinha quebranto e a reza era repetida até isso não mais acontecer; se se juntasse numa só bolha, estava tudo bem.


“Deus te viu
Deus te criou
Deus te livre
De quem para ti mal olhou
Em nome do Pai, do Filho,
E do Espírito Santo,
Virgem do pranto
Tirai este quebranto”



Maria Luís Koen



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