1ª Parte
3. Julia - continuação
Amedeo Modigliani
O ex-marido de Júlia, Pedro, agora juíz no
Tribunal de outra Comarca, foi sempre um rapaz certinho e estudioso. Raramente
ia a festas, saídas à noite não gostava e, quando entrou na Faculdade de
Direito. quase se tornava eremita não fosse Amélia, sua prima, que de vez em quando
o obrigava a umas saídas. Fora precisamente numa dessas saídas com Amélia que a
nossa relação com o Santo, como gostávamos de lhe chamar, se tornou mais
estreita. Amélia, também estudante de Direito, tinha uma amiga especial com
quem partilhava o quarto: Júlia.
Júlia apaixonou-se loucamente por Pedro na
primeira noite em que o viu: completava vinte anos e decidira fazer uma pequena
festa de aniversário para os amigos mais chegados. Já ouvira vezes sem conta
falar de Pedro, pois Amélia era quase uma irmã para ele e falava muitas vezes
do rapaz, por isso pedira a Júlia permissão para o levar à sua festa de
aniversário, numa tentativa de o socializar e de o tirar de casa. Nessa mesma
noite, assim que o viu, Júlia hipnotizada, tomou a decisão de o conquistar. Não
foi difícil, pois Pedro não era muito experiente com mulheres e, ao ver-se
assim assediado, resistiu pouco. Passados doze meses de namoro as famílias já
se conheciam e o casamento estava marcado: para o final do estágio. Três filhos
passados, fiquei admirada quando recebo um telefonema de Júlia no meu
consultório: estava em prantos. “Ele enlouqueceu, Ana. Só pode ser isso. Tens
que vir aqui avaliá-lo. Leva-o para um hospício, para um hospital de loucos!” Nessa
mesma tarde, com urgência, encontrámo-nos no Café do Hotel da Cartuxa para
uma conversa urgente. Li - lhe o desespero e a raiva nos olhos. “Leva-o, Ana,
que ele não está bem”. Levo-a comigo para casa, que quem não estava bem era
ela. A cara não enganava, o olhar também não. Liguei a televisão para amenizar
o ambiente, ela foi directa para a casa de banho vomitar, chorar, gritar:
“Leva-o para um hospício! Leva o cabrão!! Leva-o!” Fui até à casa-de-banho, dei-lhe um copo de
água que atirou ao chão. Depois pareceu
ficar mais tranquila e disse: “Ele anda com uma puta qualquer, Ana, uma puta da
pior espécie. Eu bem os vi a arrotar de volúpia, eu bem os vi. Como pôde ele
fazer-me isto?”. Fiquei a saber que Pedro, o Santo, queria o divórcio pois
tinha outra mulher.
(continua)
Maria Luís Koen
Quanto mais Santos pior é a asneira. Sempre assim foi.
ResponderEliminarParabens pela tua escrita envolvente.
Obrigada. Ainda bem que estás a gostar.
ResponderEliminarPara seguires a estória "A Roda", tens que ir a "Páginas" (do lado direito) e abrires nesse nome. Boas leituras;)
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