sexta-feira, 10 de maio de 2013

A Roda
1ª Parte
3. Julia - continuação


Amedeo Modigliani

O ex-marido de Júlia, Pedro, agora juíz no Tribunal de outra Comarca, foi sempre um rapaz certinho e estudioso. Raramente ia a festas, saídas à noite não gostava e, quando entrou na Faculdade de Direito. quase se tornava eremita não fosse Amélia, sua prima, que de vez em quando o obrigava a umas saídas. Fora precisamente numa dessas saídas com Amélia que a nossa relação com o Santo, como gostávamos de lhe chamar, se tornou mais estreita. Amélia, também estudante de Direito, tinha uma amiga especial com quem partilhava o quarto: Júlia.
Júlia apaixonou-se loucamente por Pedro na primeira noite em que o viu: completava vinte anos e decidira fazer uma pequena festa de aniversário para os amigos mais chegados. Já ouvira vezes sem conta falar de Pedro, pois Amélia era quase uma irmã para ele e falava muitas vezes do rapaz, por isso pedira a Júlia permissão para o levar à sua festa de aniversário, numa tentativa de o socializar e de o tirar de casa. Nessa mesma noite, assim que o viu, Júlia hipnotizada, tomou a decisão de o conquistar. Não foi difícil, pois Pedro não era muito experiente com mulheres e, ao ver-se assim assediado, resistiu pouco. Passados doze meses de namoro as famílias já se conheciam e o casamento estava marcado: para o final do estágio. Três filhos passados, fiquei admirada quando recebo um telefonema de Júlia no meu consultório: estava em prantos. “Ele enlouqueceu, Ana. Só pode ser isso. Tens que vir aqui avaliá-lo. Leva-o para um hospício, para um hospital de loucos!” Nessa mesma tarde, com urgência,  encontrámo-nos no Café do Hotel da Cartuxa para uma conversa urgente. Li - lhe o desespero e a raiva nos olhos. “Leva-o, Ana, que ele não está bem”. Levo-a comigo para casa, que quem não estava bem era ela. A cara não enganava, o olhar também não. Liguei a televisão para amenizar o ambiente, ela foi directa para a casa de banho vomitar, chorar, gritar: “Leva-o para um hospício! Leva o cabrão!! Leva-o!”  Fui até à casa-de-banho, dei-lhe um copo de água que atirou ao chão.  Depois pareceu ficar mais tranquila e disse: “Ele anda com uma puta qualquer, Ana, uma puta da pior espécie. Eu bem os vi a arrotar de volúpia, eu bem os vi. Como pôde ele fazer-me isto?”. Fiquei a saber que Pedro, o Santo, queria o divórcio pois tinha outra mulher. 

(continua)

Maria Luís Koen


3 comentários:

  1. Quanto mais Santos pior é a asneira. Sempre assim foi.
    Parabens pela tua escrita envolvente.

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  2. Para seguires a estória "A Roda", tens que ir a "Páginas" (do lado direito) e abrires nesse nome. Boas leituras;)

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