1º Parte - 6
Linzi Louise
6.
JOANA
O bar restaurante toca música dos anos sessenta, que convida a
uma certa melancolia. Uma nuvem de fumo perfura o ar mas ninguém parece notar. Olhos
que parecem todos iguais, não há diferença, não há distinção nas luzes que nos
tornam um pouco sobrenaturais. Os sons das palavras são abafados pela música e
apenas nos apercebemos do início ou do fim das mesmas, os lábios a mexerem em
conversas de mudos. O barman ruivo, talvez de origem escocesa não sei, parece
vindo de um outro tempo, o do barba-azul. Tenho sede. Traz-nos as bebidas e
quase imagino serem portadoras de uma qualquer potencialidade mágica. Sede do
que não tenho, sede da loucura que elas pensam que eu não conheço, sede do
intenso que provoca a cegueira. Somos cinco: umas com sede do que já viveram,
outras com sede do que sentem que lhes faz falta. Mulheres completamente
diferentes na personalidade, no vestir, na profissão. Mulheres incomuns e tão
comuns aos olhos dos outros. Tão belas ou tão chique, tão misteriosas ou tão
claras. Somos nós, eu sei que somos nós mesmas quando estamos juntas, quando
gostamos de com -ou- desconversar, com ou sem domínio, de rir ao som da música e de estar , aqui ou
ali, mas estar. Uma grande amizade
torna-nos cúmplices, apesar das nossas divergências e diferenças. E essa
amizade torna-nos mais fortes e poderosas, quase um clã feminino.
Desta vez foi Joana quem telefonou.
(continua)
Maria Luís Koen
Sem comentários:
Enviar um comentário