Danielle Duer
5.
Sentia-se
completamente desorientada.
Louca, desesperada.
Sem saber o que fazer.
Sem dinheiro no
cartão, sem telemóvel, sem os números de telefone de ninguém, sem as moradas,
sem nada.
Nada.
Sem carro ainda por
cima.
Uma completa
desorientação.
Foi assim que ele a
deixou. A ela, parva, Francisca parva, que confiara cegamente nele. Confiara
tudo: o coração, a alma, o dinheiro. Tudo. E agora não tinha nada. Nada excepto
a raiva que emergia lentamente, a sobrepor-se ao desespero, a misturar-se com
ele, a querer impor-se, a querer explodir, sair, abrir-lhe o peito para que ela
chorasse, gritasse!
Ele saiu no carro dela
uma manhã e não voltou.
Tinha sido cruel e
desonesto, totalmente horrível. E agora estava já em Setúbal, de certeza, com a outra. Quis lá saber dela e da filha,
das despesas no hotel, no que os pais diriam.
Pior que tudo é que o
sol desaparecia e ela sem saber o que fazer, danada, triste, cansada.
Cruel, falso! – gritava.
Como tinha conseguido
fazer aquilo? Como? Deixá-la na praia de mãos a abanar, coração ao relento.
Que
diriam os amigos quando soubessem e a vissem desmembrada de afecto novamente?
Não
queria que lamentassem esta falta de sorte ou que dissessem que o destino de
Francisca era este. Este de acabar sempre abandonada, prostrada, limitada.
Queria tanto ter paz,
sentir-se em paz, libertar o pensamento de toda a sujidade acumulada. Mas não
conseguia. Não queria. Agora não. Agora estava de mãos vazias, de olhos vazios,
de coração vazio. Agora estava imersa em falta de perdão, num lugar cheio de
malmequeres brancos que não lhe diziam nada. Agora estava cheia de dor, uma dor
calada e intensa que atravessava o corpo fraco, a boca inerte, as palavras que
não saiam, o vazio dos olhos.
O mar, o cheiro a
Verão, o barulho da água,, a filha a perguntar pelo pai, nada a fazia sair do
torpor desgraçado que sentia, que subia e lhe apertava o pescoço. Esperou tanto
que aquele momento não acontecesse, que não sentisse a perda, o abandono. E ali
estava a cinza dos momentos que passaram juntos, o pó, o nada que sobrou.
Era já tarde quando o
Miguel a encontrou sentada no hall de entrada do hotel.
A vida prega-nos
muitas partidas - Francisca disse. Emprestas-me o teu telemóvel para fazer uma
chamada?
E recomeçou outra vez
do nada.
Maria Luís Koen
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