quarta-feira, 1 de maio de 2013


A Roda - continuação


(Artista: Malcolm T. Liepke )


Na varanda larga e comprida tenho, ao meio, três vasos de barro, grandes e redondos, com malvas vermelhas cor de sangue e daquelas cor de luxúria e brancas também, misturadas em arrufadas que não me dão muito trabalho e ainda uma pequena mesinha em verga verde escura, com duas cadeiras redondas, também em verga da mesma cor, com almofadas grandes e fofas onde, por vezes durante a Primavera ou Verão, tomo o pequeno almoço ou, nas noites quentes, uma cerveja gelada. Da varanda partem grandes janelas, em todo o comprimento da sala, que criam luminosidade e ar também no Inverno, enquanto no Outono deixam antever com facilidade as nuvens escuras que se aproximam no horizonte, cheias de água ou granizo em dias de trovoada. É na sala que gosto de me estiraçar no sofá, de andar descalça, escrevinhar umas notas ou analisar os casos para o dia seguinte, ler. E é na sala que também gosto de praticar meditação transcendental, técnica que ao longo dos anos me tem trazido grandes benefícios. Na sala e em qualquer lado. Ao contrário do que muitos pensam, meditar não é pensar, reflectir, analisar, compreender, mas sim o oposto, é calar o que nos vai na mente e na alma, o que nos persegue mesmo sem querermos, isto é, é conseguir obter uma total calma interior, uma absoluta ausência, mesmo com os  pensamentos que teimam em aparecer, mesmo com os sons exteriores que nos assaltam. Difícil. Viajar de fora para dentro da nossa consciência é um caminho que aprendemos a trilhar com esta técnica. Não pensar nas vertigens alucinadas, não perguntar as coisas boas que vivemos, o vago que é, agora, sentir tudo e depois nada. Só assim me aquieto. Relaxo a mente e o corpo. Só assim me compreendo e me liberto. Só assim  passo da superfície agitada do oceano dos meus dias, à calma que me oferece a sua profundidade.
Maria Luís Koen
(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário